quinta-feira, 21 de agosto de 2025

A burrice como trincheira do autoritarismo brasileiro

No mundo moderno em que vivemos tempos de retrocessos, a ignorância, o idiota e o burro, deixou de ser um problema, uma ofensa e se tornou uma virtude. Aquilo que antes causava vergonha e constrangimento, hoje se tornou motivo de orgulho. A burrice performada, revestida de “liberdade de opinião”, conquistou espaço nas redes, na política e na sociedade. O indivíduo que nega a democracia, os direitos fundamentais, a constituição e que repete frases autoritárias ou que não tem o menor nexo com a realidade, se tornou símbolo de “coragem” e “autenticidade”. Mas não nos deixemos enganar acreditando se tratar de uma ignorância espontânea, pois se trata de um projeto de poder político e econômico.

Essa burrice, que opera como estética e método, é funcional ao avanço do autoritarismo. O sujeito que não pensa, que recusa a complexidade, que transforma o ódio e o preconceito em justificativa para agressões, é o cidadão ideal para a lógica reacionária. Como demostra Rubens Casara em seu livro, A construção do idiota: O processo de idiossubjetivação, o colapso da racionalidade crítica, não é um efeito colateral – é uma estratégia montada pelos detentores do poder politco econômico. A mínima racionalidade democrática, que exige abertura para o outro e reconhecimento da dúvida, é substituída por um processo de subjetivação do indivíduo, juntamente com uma racionalidade autoritária.

O indivíduo ideal deste projeto, é o que podemos definir como o “ bom burro reacionário”. Ele não apenas se recusa a ler, a pensar, a estudar, a escutar – ele transforma toda sua ignorância e repulsa ao pensamento crítico, em bandeira, no mais estilo de um discurso político. Os intelectuais se tornam “lacradores”, a filosofia se torna inútil, e celebra “nunca ter lido um Paulo Freire, Karl Marx, entre outros pensadores”. Ademais, o bom burro reacionário, afirma estar vivendo em uma ditadura, enquanto clamam pelo retorno da Ditadura e endeusam os torturadores da ditadura brasileira como Carlos Alberto Brilhante Ustra. 

É nesse cenário que a burrice precisa urgentemente voltar a ser uma ofensa, uma forma de constrangimento. E não se trata aqui de forma alguma de elitismo ou desprezo pelos que tenham visão diferente de política, economia ou demais assuntos. Mas trata-se de apontar, sem meias palavras, que a ignorância deliberada – aquela que se escolhe de maneira deliberada de não pensar, que milita contra a democracia, contra a ciência, que deturpa a história e repulsa a dúvida – é um dos principais combustíveis do autoritarismo e do fascismo moderno.

Frente a este cenário, o combate à burrice e a estupidez humana, não é uma questão moral ou estética, mas uma defesa da própria sociedade e dos valores democráticos. O idealismo e o projeto reacionário não teme a esquerda ou a justiça, mas sim, a potência que o ato de prensar pode despertar nas pessoas. Até porque uma sociedade pensante é uma sociedade viva de dúvidas.

A burrice não é neutra. Quem a instrumenta e a sustenta também não. Ao contrário: ela está na base do desprezo pela igualdade, do fanatismo religioso, do autoritarismo penal e da erosão democrática. Apontar e denunciar seu papel estruturante nas sociedades contemporâneas é condição para que se possa criar um futuro. Um futuro, o qual, o bom burro recionário se sinta contrangido, inútil, simplesmente porque não lhe resta mais seguidores.
Diogo Almeida Camargo

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