terça-feira, 29 de julho de 2025

Trump e a estratégia de oposição latino-americana

A presença de Donald Trump no cenário internacional e sua postura intervencionista, seja por meio de suas políticas tarifárias ou de sua aliança com forças políticas de direita, mudaram profundamente o clima político na América Latina.

Muitos oponentes estão tentados a declarar sua proximidade com o presidente dos EUA, na esperança de obter vantagens eleitorais e apoio que os ajudarão a derrotar os governos em exercício.


No entanto, essa postura provou ser uma faca de dois gumes no cenário eleitoral. O Partido Conservador do Canadá saiu pela culatra ao copiar a campanha de Trump nos EUA, perdendo a vantagem que tinha na eleição de abril de 2025. Jogar em casa para vencer em casa não é necessariamente uma estratégia vencedora. Isso também pode se aplicar a casos latino-americanos.
O efeito Trump no Canadá

A retórica anexacionista repetida de Donald Trump contra o vizinho Canadá pode ter parecido uma simples provocação no início, mas com o tempo gerou efeitos políticos visíveis: reavivou os progressistas e afundou os conservadores.

Desde que Donald Trump assumiu a presidência, os liberais de Justin Trudeau e Mark Carney passaram de perdedores a vencedores. Carney desempenhou o papel de um gestor de crise eficaz e um líder nacionalista que conseguiu unir o país.

Ele conseguiu diminuir a diferença nas pesquisas de seu partido, posicionando-se como líder da resistência nacional às políticas agressivas do presidente Trump. Repetidamente, ele enfatizou que o Canadá defenderia sua soberania, chegando até a boicotar produtos fabricados nos EUA.

Contra os conservadores, que copiaram o slogan da campanha "Canadá Primeiro" de Trump, Carney conseguiu cultivar uma liderança baseada no patriotismo com claras conotações de um nacionalismo canadense desconhecido até recentemente.

Variante 1: A oposição causa danos ao país em nome dos interesses de um governo estrangeiro

Ao anunciar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, o presidente dos EUA, Donald Trump, usou argumentos políticos e denunciou uma suposta "caça às bruxas" contra Jair Bolsonaro na Justiça brasileira.

Ao se recusar a reconhecer a independência do Judiciário brasileiro, Trump exige que o processo contra o ex-presidente termine "imediatamente" e acusa o governo Lula da Silva de censurar oponentes políticos.

Por sua vez, o presidente brasileiro descreveu as ações de seu homólogo americano como "chantagem inaceitável na forma de ameaças às instituições brasileiras e informações falsas sobre o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos".

A crítica é direcionada ao deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, que atualmente reside nos EUA e vem pressionando políticos americanos a retaliarem contra o judiciário brasileiro.

Variante 2: Invocar o apoio de um governo estrangeiro contra o governo nacional

No caso da Colômbia, outras variações podem ser encontradas, também marcadas por um contexto pré-eleitoral em um país altamente polarizado politicamente.

A candidata conservadora independente Vicky Dávila, que atualmente lidera as pesquisas, acaba de lançar um apelo a Washington por meio de sua conta no X: "Presidente Trump, não deixe os colombianos sozinhos em meio às tempestades causadas pelas acusações falsas, imprudentes, prejudiciais e infundadas de Petro contra o Congresso dos EUA e seu governo."

Em sua mensagem, ela também acusa o governo do presidente Petro de buscar perpetuar seu poder e pede apoio aos cidadãos, empresários e empresas de seu país contra o atual governo. Não é surpresa que ela tenha enfrentado acusações de traidora e de ter traído o país, acusações essas que estão ligadas às repetidas denúncias do próprio presidente sobre possíveis golpes em andamento contra seu governo.

Variante 3: Separar as pessoas boas do mau governo na frente externa

Anteriormente, a ex-vice-presidente colombiana Marta Lucía Ramírez havia enviado uma carta ao secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmando que "a postura desafiadora, agressiva e desobediente do governo do presidente Gustavo Petro em relação aos Estados Unidos, sua cooperação e o povo americano não representa os sentimentos do povo colombiano".

Os signatários da carta incluíam ex-ministros das Relações Exteriores e líderes empresariais, alguns dos quais foram incluídos na lista sem sua autorização expressa, já que o rascunho da carta foi tornado público prematuramente.

Variante 4: Geração de descrédito diplomático para o Governo nacional

Dezoito congressistas colombianos também apresentaram uma queixa contra o governo nacional, enviando uma carta ao Papa Leão XIV sobre a nomeação de Iván Velázquez como embaixador na Santa Sé, alegando que ele é alvo de um pedido de prisão e extradição pela Procuradoria-Geral da Guatemala por suas ações durante seu mandato como presidente da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (CICIG).

Internacionalmente, a controversa promotora Consuelo Porras é amplamente conhecida por usar o Ministério Público da Guatemala mais como uma ferramenta política do que como uma instituição judicial. A tentativa da oposição colombiana de usar suas controversas investigações no exterior para desacreditar o governo nacional com fontes não confiáveis reflete outra variante do antipatriotismo colombiano.


A tendência de equiparar oposição desleal a atitudes antipatrióticas não nos ajuda a entender o que está acontecendo em cada caso. Não há dúvida de que uma oposição eficaz também pode gerar pressão internacional contra o governo no poder.

Se essas atitudes são "antipatrióticas" é uma questão a ser debatida nos respectivos fóruns nacionais. Um caso diferente é quando a oposição deixa de respeitar as regras básicas do sistema de governo, como no Brasil, onde a independência judicial e, com ela, a separação de poderes são negadas. Nesse caso, torna-se uma oposição desleal, ou seja, uma oposição fundamental que protesta não dentro das instituições políticas, mas contra elas.

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