quinta-feira, 8 de maio de 2025

Quando os remédios acabam

Marwa e muitas outras como ela estão esperando — por justiça, por liberdade, pelo fim da guerra genocida e pela volta da vida a ser como deveria ser.

Minha irmã, Marwa Eid, tem 28 anos. Assim como eu, ela foi deslocada à força duas vezes desde 13 de outubro de 2023, quando tivemos que deixar nossa casa no norte de Gaza pela primeira vez para escapar da devastadora guerra israelense.

Durante o nosso deslocamento, Marwa começou a sofrer de um problema de saúde doloroso que transformou a sua vida num pesadelo. As suas mãos, antes uma ferramenta para a criatividade e o trabalho árduo, tornaram-se agora uma fonte constante de dor e sofrimento.

Marwa sofre de eczema grave nas mãos, causado por uma combinação de condições adversas e desumanas. Ela é forçada a usar detergentes produzidos localmente porque Israel não permite a entrada de materiais de limpeza adequados na Faixa de Gaza.

Marwa sofre de desnutrição devido à escassez de alimentos e à dependência de alimentos enlatados cheios de conservantes. Ela não tem acesso aos medicamentos de que necessita devido ao cerco e à guerra em curso.


Em 12 de maio de 2024, a história de Marwa tomou um rumo difícil. Naquele dia, ela notou uma ligeira mudança em suas mãos. Pequenas manchas vermelhas apareceram em sua pele, acompanhadas de coceira constante. A princípio, ela pensou que fosse uma alergia leve que passaria. Ela não tinha ideia de que o que havia aparecido em sua pele logo se tornaria uma longa e dolorosa batalha.

Sem acesso a produtos seguros, Marwa teve que recorrer a detergentes caseiros, cuja fabricação não é regulamentada. Esses produtos são frequentemente produzidos em condições inseguras e contêm produtos químicos nocivos. Ela não tinha outra opção, mas o efeito em sua pele foi imediato e grave. Suas mãos começaram a rachar e sangrar profusamente.

Conforme a dor piorava, levei-a para um posto médico dentro de um dos campos de deslocados, criados pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) para pessoas deslocadas.

Quando Marwa mostrou a mão ao médico, ele ficou visivelmente chocado com a gravidade do seu estado. Olhou para ela com tristeza e disse: "É um eczema grave. Peço desculpas — não tenho nenhum medicamento no depósito neste momento devido ao fechamento das travessias. Só posso lhe dar um comprimido de analgésico. Pode aliviar um pouco a dor, mas não é o tratamento de que você precisa."

Marwa saiu da clínica com o coração pesado, afogada em tristeza e dor. Ainda na esperança de alívio, tentou visitar algumas farmácias particulares, algumas das quais ainda tinham estoque limitado de antes da guerra. Em uma delas, perguntou sobre o medicamento que o médico havia recomendado. O farmacêutico disse que estava disponível, mas era muito caro, muito além de suas possibilidades financeiras.

Com o passar do tempo, o impacto da doença se estendeu além do físico. Marwa agora sofre psicologicamente, pois não consegue mais ajudar nas tarefas diárias. Ela sempre foi trabalhadora e amorosa, sempre disposta a ajudar os outros. Ela costumava ajudar nossa mãe a acender o forno de barro que usamos para preparar pão e comida, especialmente importante devido à crise de gás causada pela guerra.

Em 10 de abril de 2025, o Ministério da Saúde de Gaza confirmou em um comunicado público que a escassez de medicamentos e suprimentos médicos havia atingido níveis perigosos e sem precedentes. Afirmou que 37% da lista de medicamentos essenciais estava com estoque zero.

O Ministério também informou que 59% dos suprimentos médicos estavam indisponíveis. O Ministério alertou que salas de cirurgia, unidades de terapia intensiva e departamentos de emergência em todos os hospitais de Gaza estavam funcionando com estoques severamente reduzidos de medicamentos e suprimentos vitais.

Marwa não está sozinha. Ela é apenas uma entre muitas pessoas na Faixa de Gaza que sofrem com a falta de medicamentos e acesso a tratamento. Mas seu caso é um exemplo vivo do que as pessoas aqui enfrentam todos os dias. Ele reflete como um ataque israelense prolongado pode transformar uma condição simples e tratável em uma condição crônica e debilitante.

Todas as noites, vejo minha irmã lutando para dormir, lutando contra a dor. E continuo me perguntando: Que crime cometemos para viver essa realidade dolorosa? Por que Marwa deveria sofrer assim, simplesmente porque nasceu em Gaza?

Esta história não é o fim. É o início de um pedido de socorro vindo de Gaza sitiada. Marwa e tantas outras como ela aguardam — por justiça, por liberdade, pelo fim da guerra genocida e pela volta da vida ao que deveria ser.

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