A ascensão do bolsonarismo elevou a uma posição central no debate público uma doutrina baseada em tendências autoritárias. O líder, seus auxiliares e muitos apoiadores seguiram uma linha que rejeitava controles institucionais, admitia o atropelo das regras do jogo e considerava o uso da força para fazer valer suas vontades políticas.
Grupos dominantes da direita brasileira mantêm essas preferências ou exibem complacência exagerada em relação a esses valores. A dependência da força política de Jair Bolsonaro e a ausência de um polo alternativo nesse campo une extremistas convictos, beneficiários políticos do radicalismo e aqueles que temem desafiar o ex-presidente.
A normalização, ao longo de quatro anos, dessas disposições autoritárias facilitou a disseminação da ideia de que aquele era um caminho legítimo ou, ao menos, uma transgressão aceitável quando usada a favor de um propósito político. Anabolizada por informações falsas, essa distorção foi absorvida por uma fatia ampla do eleitorado.
Esse é o efeito de um certo tipo de populismo. Nos EUA, uma pesquisa do Democracy Fund mostrou que 58% dos eleitores republicanos concordavam, em 2019, que Donald Trump poderia agir fora da Constituição se soubesse que era "a coisa certa". Só 12% dos simpatizantes do mesmo partido diziam, em 2022, que Joe Biden poderia fazer o mesmo.
No Brasil, a desconfiança artificial sobre o processo democrático e o antagonismo fabricado em relação às instituições estão sedimentados entre os bolsonaristas mais fiéis. A exclusão do ex-presidente do jogo eleitoral e a condenação de golpistas dificilmente mudará esse quadro de um ano para outro.
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