Os generais calados eram da ativa, em comando de tropa. A esses, que de fato são os que decidem os rumos do Exército, junta-se agora um novo tipo de oficial: os Calados do B, da ativa, investigados por um golpe que falhou.
Cadê o general Freire Gomes, comandante do Exército até dezembro último? Oito oficiais-generais disseram ao repórter Cézar Feitosa que Freire Gomes relatou que Bolsonaro apelou às Forças Armadas por um golpe para impedir a posse de Lula.
À Polícia Federal, em delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid contou que Freire Gomes chegou a ameaçar prender Bolsonaro se ele insistisse com a proposta de golpe. Por que não o prendeu? Por que não o denunciou? Por que Freire Gomes está mudo?
Por que se calam o brigadeiro Baptista Júnior e o almirante Almir Garnier, à época comandantes da Aeronáutica e da Marinha, respectivamente? Dizem que o brigadeiro ouviu calado a proposta de Bolsonaro, e que a ela o almirante aderiu com entusiasmo.
Os dois e Freire Gomes são cúmplices de um crime. Bolsonaro não se reuniu com eles uma dezena de vezes apenas para trocar ideias sobre um golpe hipotético. Reuniu-se para avaliar se as Forças Armadas estariam dispostas a apoiá-lo no caso de um golpe.
Era o que mais desejavam os generais falantes da reserva, alguns também da ativa, além de oficiais de patente inferior, contrários à volta da esquerda ao poder, e que em 2018 votaram em Bolsonaro e em 2022 se frustraram com a sua derrota.
Os generais calados barraram o golpe. Em julho de 2022, o general Paulo Sérgio de Oliveira, ministro da Defesa, ouviu do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, que seu país não apoiaria um golpe no Brasil, mas sim o presidente eleito.
Os encarregados de negócios dos Estados Unidos no Brasil, Douglas Knoff, e do Reino Unido, Melanie Hopkins, participaram de reuniões secretas com generais para sondá-los sobre a posição das Forças Armadas se Lula vencesse Bolsonaro.
Quantas vezes de janeiro para cá você não ouviu militares e seus porta-vozes dizerem que “é preciso virar a página”? Por “virar a página”, entenda-se: pôr um ponto final na discussão e nas investigações sobre as tentativas fracassadas de golpe.
Sim, tentativas. Porque foi mais de uma: a que se daria entre novembro e dezembro para impedir a posse de Lula, e a amadora e atabalhoada de 8 de janeiro que resultou na invasão do Palácio do Planalto, do Congresso e do prédio do Supremo Tribunal Federal.
Nas últimas 48 horas, em sucessivas declarações, o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice de Bolsonaro, recomendou que se passe uma borracha no que aconteceu. Quem já foi pego que se defenda. Por que correr atrás de mais gente?
Mourão chamou de “revanchismo” do governo do PT a convocação para depor à CPI do Golpe do general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro:
“A CPI é para investigar o 8 de janeiro e essa turma aí já estava fora do governo, não teve nada a ver com esse processo. Então a minha visão é muito clara: isso é revanchismo. Não havia necessidade nenhuma (do depoimento de Heleno)”.
Na opinião de Mourão, a convocação de generais como Heleno e Braga Netto tensiona o ambiente com as Forças Armadas, “principalmente com o pessoal da reserva que pressiona, obviamente, o pessoal da ativa.”
Quanto a Bolsonaro, que corre o risco de ser indiciado pela CPI, Mourão afirma:
“É vergonhoso indiciar o Bolsonaro, com base em quê? Tem que aparecer uma prova concreta de que o Bolsonaro financiou, exortou, planejou e preparou os acontecimentos de 8 de janeiro. Ele não fez isso”.
Bolsonaro não é o foco das preocupações de Mourão, e sim seus colegas de farda. É com eles que também se preocupa o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que diz que as “Forças estão cientes do seu papel de parceiras do governo”.
Parceiras, como assim? Os militares são servidores públicos, pagos por nós, obrigados a trabalhar com qualquer governo e a respeitar a lei acima de tudo. Os que não respeitarem, tanto mais porque andam armados, devem ser punidos com extremo rigor.
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