Quando começa assim, o efeito dominó é inevitável. Outras confissões apontando o ex-presidente como mandante dos crimes contra a saúde pública, o Estado de Direito, o sistema eleitoral e a reputações alheias virão.
Os dias de liberdade de Bolsonaro estão contados. A ele resta a esperança de que seja visto como vítima de perseguição e, lá na frente, possa dar a volta por cima. Mira-se no exemplo de Luiz Inácio da Silva sem, no entanto, levar em conta as abissais diferenças entre as figuras e as circunstâncias de um e de outro.
O hoje presidente da República, depois de ter passado 580 dias preso, jamais produziu as provas que o antecessor fabricou contra si. Lula foi acusado de ter sido favorecido por um intrincado e até sofisticado esquema de corrupção envolvendo empresários amigos e políticos aliados. Safou-se em função de procedimentos indevidos, mudanças de regras e de entendimentos na Justiça.
Já Bolsonaro protagonizou projeto mequetrefe de apropriação indevida do poder, cuja execução foi entregue a operadores igualmente chinfrins.
Um presidente que abre as portas do Palácio, do Ministério da Defesa e do próprio partido a um estelionatário pago por uma deputada amalucada, e ainda manda o ajudante de ordens vender presentes de Estado para embolsar um dinheiro, não dá margem a qualquer dúvida razoável sobre sua culpabilidade, fechando o caminho de eventuais brechas legais.
Jair Bolsonaro subestimou a República, fez pouco do Brasil, desdenhou da solidez das instituições, menosprezou instâncias de controle e investigação. Por isso se vê na iminência de pagar pelas pragas que rogou ao país.
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