sexta-feira, 14 de julho de 2023

Pneus: o item poluidor menos conhecido dos carros elétricos

Sendo o único ponto de contato do carro com o asfalto, os pneus muitas vezes têm sua importância menosprezada. Eles precisam aderir à pista com firmeza suficiente para que os carros acelerem, façam curvas e freiem sem derrapar, mas também precisam reduzir a resistência ao rolamento o suficiente para manter a eficiência do uso de combustível.

Para os fabricantes de pneus, criar o pneu perfeito — que equilibre desempenho e durabilidade — é uma tarefa interminável. Nos últimos anos, esse trabalho foi ainda mais complicado pelos veículos elétricos.

Devido às suas grandes baterias, esses veículos tendem a ser significativamente mais pesados do que seus equivalentes com motores de combustão interna. O e-Golf da Volkswagen, por exemplo, é cerca de 400 quilos mais pesado que o Golf VII movido a gasolina. Esse peso adicional recai sobre os pneus do carro, por isso os veículos elétricos precisam de pneus mais resistentes.

Os veículos elétricos também tendem a ter mais torque do que os com motor de combustão, fazendo com que seus pneus precisem ser capazes de transferir tração para a estrada em segundos.


Os principais fabricantes de pneus estão trabalhando para melhorar o design dos pneus e inovar com novas fórmulas químicas para atender às necessidades dos veículos elétricos. Algumas marcas introduziram produtos especificamente para uso em veículos movidos a bateria, enquanto outras dizem que adaptaram todos os seus pneus para um melhor desempenho tanto para veículos elétricos quanto para veículos com motor de combustão.

"Otimizamos nossa linha de produtos há muito tempo, especialmente em termos de vida útil, resistência ao rolamento e ruído de rolamento – fatores que são particularmente benéficos para veículos elétricos", disse um porta-voz da fabricante de pneus Continental à DW em nota.

Quando se fala no impacto ambiental dos carros, o foco tende a ser a poluição do ar pelo sistema de escape. Mas os pneus também contribuem. Eles se desgastam com o tempo – a cada rotação, soltam pequenas partículas. As menores vão para o ar, onde podem ser inaladas ou saem da estrada para se acomodar no solo próximo.

"O uso dos pneus é provavelmente o problema mais complicado de resolver nos veículos", disse Nick Molden, fundador e CEO da empresa britânica Emissions Analytics. "Com muitos outros tipos de poluição, é possível efetivamente retê-la usando algum tipo de filtro ou catalisador. Mas o pneu é um sistema aberto – você não pode encapsular um pneu."

A Emissions Analytics realiza testes independentes em carros, incluindo de sistemas de escape e emissões de pneus. A empresa compilou dados que confirmam que a poluição de partículas dos pneus superou significativamente a dos escapamentos.

De acordo com um relatório da Emissions Analytics, um único carro perde, em média, quatro quilos de peso de partículas de pneus por ano. Multiplicado por toda a frota global, isso equivale a seis milhões de toneladas de partículas de pneus anualmente.

"Medimos a quantidade de material sólido que sai do escapamento na estrada e fazemos o mesmo medindo a massa que é eliminada pelos pneus", explicou Molden. "A cada ano, a quantidade que vem do escapamento fica cada vez menor, e a quantidade que vem dos pneus está crescendo, porque os veículos estão ficando mais pesados."

Um estudo de caso publicado pela Emissions Analytics comparou as emissões dos pneus de um Tesla Model Y com um Kia Niro e descobriu que as emissões particulares pelo desgaste dos pneus do carro da Tesla eram 26% maiores.

A poluição por partículas de pneus tem dois impactos negativos primários na saúde ambiental. O próprio particulado é levado para os cursos d'água e foi considerado uma fonte significativa de microplástico oceânico. Além disso, os pneus contêm compostos orgânicos voláteis (COVs), que são perigosos para a saúde humana e reagem na atmosfera criando névoa seca.

Um produto químico particularmente preocupante nos pneus é o 6PPD, usado para evitar que a borracha rache ou quebre. O 6PPD também é solúvel em água, por isso é levado para fora das estradas pela chuva e chega a rios e oceanos, onde tem sido associado à mortandade em massa de salmões e trutas. Estudos posteriores descobriram que o 6PPD é absorvido por plantas comestíveis como alface e que o composto pode ser encontrado na urina humana.

A eliminação gradual de veículos movidos a combustível fóssil é um aspecto urgentemente necessário para mitigar as mudanças climáticas. Mas se isso vier a piorar as emissões dos pneus, isso também é problemático.

"A solução óbvia é dirigir e vender menos carros", disse o ativista climático Tadzio Müller à DW. "A mudança para veículos elétricos visa nos convencer de que vai salvar o planeta, mas é claro que isso não é verdade, porque o problema sempre foi o crescimento capitalista", acrescenta.

Questionado se reduzir o uso geral do carro é a melhor solução para os impactos ambientais dos pneus, Molden disse à DW: "Sim, isso reduziria as emissões dos pneus. Mas, em termos de atividade econômica perdida, valeria a pena?"

"É melhor criar um mecanismo de mercado onde seja do interesse das empresas de pneus investir muito e apresentar as melhores formulações", disse Molden, acrescentando que atualmente há uma diferença de duas a três vezes em termos de toxicidade de COV entre certos pneus. Molden disse que, em geral, as principais marcas de pneus da Europa estão entre as melhores, enquanto as importações baratas tendem a ser as piores.

No nível individual, evitar acelerações rápidas e freagens bruscas pode reduzir o desgaste dos pneus. Também é aconselhável usar os pneus até o final de sua vida útil, pois os pneus novos liberam o dobro de partículas durante os primeiros dois mil quilômetros.

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