segunda-feira, 22 de maio de 2023

Marina Silva, espinho e incógnita no governo Lula

Lula está no Japão , enquanto estoura uma crise no Brasil, que é a que ele menos deseja por ter repercussão global. Trata-se de decisão do Ministério do Meio Ambiente, presidido pela emblemática e ambientalista Marina Silva, referente ao delicado problema da exploração de petróleo na Amazônia.

O Ministério do Meio Ambiente acaba de negar a licença para a exploração do chamado ouro negro na região amazônica do Amapá, na qual a brasileira Petrobras está de olho em empresas estrangeiras por ali embaralharem bilhões de dólares.

A decisão da ministra Marina Silva já fez a primeira vítima em seu próprio partido. O senador Randolfe Rodríguez, uma das peças-chave do partido Rede, fundado por ela e aliado do governo, já anunciou sua saída do partido.

Agora Lula terá que decidir salomonicamente sobre duas peças-chave de seu governo, Rondolfe e Marina, algo que vai agitar seus planos de presidir um governo unido e pela primeira vez com personagens do centro à direita.


A possível polêmica com a decisão da ministra Marina Silva de vetar a exploração de petróleo na Amazônia é mais emblemática por causa do precedente do primeiro governo Lula, que surpreendeu ao nomear Marina como ministro do Meio Ambiente na época. A famosa ambientalista acabou deixando o cargo por falta de apoio à época para suas demandas ambientais.

Lula teve a boa ideia de convocar Marina Silva novamente como ministra. O meio ambiente é um tema que 20 anos após seu primeiro governo se tornou uma das maiores preocupações da política mundial. E Marina foi emblemática, apostando desta vez na luta contra a destruição da Amazônia. Foi um abraço grávido de simbolismo.

Com os olhos do mundo voltados para o Brasil, onde seu maior tesouro, mais que o petróleo, é a riqueza da Amazônia, a possível nova crise com Marina, nem sempre bem-vista no PT devido ao seu radicalismo, será duplamente dramática.

Lula vai precisar de toda a sua grande habilidade negocial para impedir que Marina o cargo pela segunda vez. É que ela, com um histórico parecido com o de Lula que subiu do nada ao poder, não é uma ministra qualquer.

Marina é referência mundial na luta contra a destruição do planeta. Com a vantagem, perante boa parte dos políticos, de ter sua integridade moral reconhecida por todos. Nunca envolveu-se em escândalos de corrupção e sempre levou uma vida austera.

Lembro que em 2003, recém-nomeada ministra de Lula, eu a entrevistei em Brasília para este jornal. Fiquei chocado com o apartamento simples de classe média baixa em que morava e com sua austeridade.

Quando lhe perguntei se não se importava de ser acusada de ser excessivamente ingênua em seus ideais de defesa do meio ambiente, ela me lembrou da Bíblia onde se diz que o profeta Abraão plantou uma árvore aos 100 anos. Quando lhe lembraram que ele, devido à sua idade, não colheria mais seus frutos, ele respondeu que não o havia plantado para si, mas para aqueles que o precederiam.

Não, Marina, mais uma vez, você não será uma ministra fácil. Nem para o estrategista Lula.

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