Somente neste início de ano, já foram ao menos quatro casos de mais destaque: o ataque com bomba caseira por um ex-aluno em Monte Mor (SP), em 13 de fevereiro; o ataque a faca por um aluno de 13 anos a uma escola em São Paulo, que deixou uma professora morta e quatro pessoas feridas em 27 de março; o ataque a faca por um aluno a colegas em uma escola do Rio de Janeiro em 28 de março; e agora o atentado à creche em Santa Catarina.
Levantamento feito pela pesquisadora Michele Prado, do Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP (Universidade de São Paulo), registrou 22 ataques a escolas entre outubro 2002 e março de 2023.
Antes do caso de Blumenau, e sem incluir na conta o ataque a faca no Rio de Janeiro, 11 desses casos haviam sido registrados somente em 2022 e 2023.
Com os dois casos mais recentes, portanto, os últimos dois anos já superam em número de ataques os 20 anos anteriores.
Levantamento feito por pesquisadores da Unicamp chegam a números semelhantes.
Considerando apenas casos envolvendo alunos e ex-alunos como agressores, o grupo liderado pela pesquisadora Telma Vinha, registra 22 ataques entre 2002 e 2023, sendo 10 deles nos últimos dois anos.
Os ataques a escola também foram tema de um relatório entregue ao governo de transição no final do ano passado. Além dos ataques efetivamente realizados, o documento mostra os atentados evitados. O padrão aqui também revela um forte aumento da frequência em anos recentes.
Segundo o relatório O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental, foram 34 ataques a escolas evitados no Brasil entre 2012 e 2022, sendo 22 deles somente no ano passado.
Dos 22 ataques evitados em 2022, oito tinham como alvos escolas em Goiás e 4 em Minas Gerais.
Segundo os pesquisadores, os agressores são em geral jovens (10 a 25 anos), do sexo masculino. E muitos deles são vítimas de bullying na escola, possuem características de isolamento social e indícios de transtornos mentais não diagnosticados ou acompanhados.
Eles se articulam em comunidades online onde há incentivo à violência, à misoginia, e em plataformas de fácil acesso na internet.
Para Michele Prado, o aumento da frequência dos ataques no país é fruto de um processo de radicalização online em massa que atinge principalmente o público jovem, a partir dos 10 anos.
“Elas não estão da deep web ou na dark web, estão na superfície, em aplicativos como Discord, Twitter, TikTok, Telegram e WhatsApp”, diz Prado.
A pesquisadora afirma que não há uma razão única para a radicalização e os agressores têm perfis radicalizados distintos.
“Alguns jovens se queixam de bullying, outros parecem ter transtorno de personalidade narcisista, com perfil de agressores e não de vítimas. Nas redes, eles são expostos a teorias conspiratórias que desumanizam grupos específicos”, exemplifica.
Para Danila Di Pietro, pesquisadora da Unicamp e parte do grupo liderado pela professora Telma Vinha, o aumento no número de ataques a escolas nos últimos anos está relacionado também ao avanço da cultura de violência no país.
"De cinco anos para cá, passamos por uma banalização da violência. O uso de armas de fogo, de um discurso de ódio, separatista, racista, misógino, homofóbico, até por autoridades oficiais, com isso ganhando escala pública, tudo isso faz com que as pessoas que cultivavam esses valores no seu ambiente privado passem a ganhar corpo público", afirma Di Pietro.
As pesquisadoras destacam ainda o papel da cobertura da imprensa na multiplicação desses casos, já que os agressores em geral buscam notoriedade e se inspiram a partir de ataque anteriores.
"Nosso pedido à imprensa é de não divulgar em detalhes como a coisa se deu, porque isso acaba ensinando como se fazer. É preciso focar muito mais nas vítimas do que no agressor, porque tudo que ele querem é notoriedade", diz a pesquisadora da Unicamp.
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