Onde está escrito que a imprensa tradicional, dita séria, que antes não se rendia amiúde à frivolidade, tenha hoje que estar a reboque das redes sociais, na maioria das vezes a repercutir o que ali se publica primeiro e quase sempre com estardalhaço?
Janja, a primeira-dama, assim que o marido presidente se instalou no confortável Hotel Tivoli, em Lisboa, para sua primeira visita de Estado a Portugal, saiu por uma porta lateral e foi a uma loja de roupa masculina comprar uma gravata para ele.
É uma loja de grife na Avenida da Liberdade, a poucos metros do hotel, da marca italiana Ermenegildo Zegna. Na pressa insana para competir com as redes, os primeiros relatos da imprensa deram conta de que mal chegara de viagem, Janja fora logo às compras.
Antigamente, dava-se ao repórter o tempo necessário para que apurasse uma história e a escrevesse com algum primor. Agora, deve apurar e escrever rapidamente mesmo que a história esteja incompleta. Janja voltou com uma sacola, disseram alguns.
Só mais tarde souberam que dentro da sacola havia uma gravata. E que sua estadia na loja durou apenas 20 minutos. A maioria omitiu que Janja não pagou a gravata com o cartão corporativo. Significa que pagou com seu próprio dinheiro ou com o do marido.
Mas registrou-se, em espaço generoso, o que àquela altura os bolsonaristas nas redes sociais diziam a propósito: “A mãe dos pobres foi às compras em loja de luxo”; “Essa mulher é uma vergonha nacional”; “Será que ela pagou com Pix?”.
O “outro lado da questão” não pode ser uma camisa de força. O jornalismo independente nada tem a ver com isso. Uma imprensa digna de respeito não deveria comportar-se como mera extensão das redes onde Sua Excelência, O Algoritmo, é quem manda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário