terça-feira, 25 de abril de 2023

Entre a fome e o gato

Já pensou no que você faria se tivesse de escolher entre comprar comida e pagar a conta de um serviço essencial como o fornecimento de energia elétrica? Esse é o tipo de dilema que assombra cotidianamente a vida de milhões de brasileiros privados de direitos básicos.

A pobreza é um fenômeno complexo, que sustenta a exclusão e a vulnerabilidade e ultrapassa a questão da renda. Não por acaso a chamada "pobreza energética" remete à insegurança alimentar, falta de acesso à informação e à educação – entre outros direitos da cidadania.


Considerando que a perspectiva interfere no diagnóstico de problemas sociais, a Rede Favela Sustentável e o Painel Unificador das Favelas decidiram assumir o controle da narrativa sobre esse tema nas comunidades do Rio de Janeiro.

Assim surgiu o primeiro relatório Eficiência Energética nas Favelas, que expõe detalhes até então inéditos a respeito do impacto da ineficiência do serviço e do uso de luz sobre a pobreza e o aprofundamento das desigualdades. No cenário retratado, as políticas públicas não chegam aos destinatários de maneira eficiente.

A maioria (55,2%) das famílias representadas encontra-se abaixo da linha da pobreza (vive com renda per capta mensal de até R$ 497), sendo que 68,7% dizem desconhecer a Tarifa Social de Energia Elétrica. O que faz com que 90,4% dos que atendem ao critério de renda para ter tarifa social não recebam o benefício.

Segundo o relatório, 41,5% das famílias que ganham até meio salário mínimo e 23% das que recebem de dois a três mínimos ficaram sem luz por mais de 24 horas no último trimestre! Ainda assim, poucas formalizam reclamações, pois o recurso usado para ter acesso à energia elétrica é, muitas vezes, uma conexão irregular.

Longe de mim fazer apologia da fraude, mas, aos olhos de quem tem de escolher entre comer e pagar a luz, o famoso "gato" pode ser mais um mecanismo de luta pela sobrevivência do que um pressuposto de desonestidade.

Um comentário:

  1. Prezada Ana Cristina Rosa. Para que a energia elétrica possa ser distribuida com tarifas sociais, são necessárias várias empresas que prestem os serviços de : 1) Geração de energia; 2) Transmissão da energia e 3) Distribuição da energia pelas cidades. O que os esquerdistas esquecem é que tudo isso tem um custo e as empresas devem cobrar dos consumidores para que possam sobreviver e crescer. Não existe energia elétrica gratuita. Na vberdade, não existe nada "grátis". E, no Brasil, um dos maiores problemas para as empresas são os ladrões de energia. Por exemplo. No Rio de Janeiro, os "gatos" roubam mais de 42% da energia distribuida. Por isso a Light, empresa geradora, transmissora e distribuidora de energia no estado do Rio de Janeiro, está prestes à entrar com pedido de recuperação judicial. E se a Light parar, não são só os favelados que roubam energia que ficarão sem ela. Será a população inteira, além das empresas, das indústrias que terão que parar suas atividades. Então. Por favor, parem de passar a mão nas cabecinhas dos ladrões de energia. Aliás, nas cabeças de todos os ladrões, pois não passam de gente sem vergonha que deveria ser isolada da sociedade. Lugar de ladrão é na cadeia mocinha.

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