Prensados pelas redes sociais, a gente se vê obrigada a se posicionar o tempo todo, grande parte das vezes sobre assuntos leves ou absolutamente fora de nossa área de conhecimento ou curiosidade. O que pensamos a respeito do ajuste fiscal; da reforma do ensino; da permanência daquele ministro reconhecidamente ficha-suja; do tal novo arranjo do futebol, a sociedade anônima do futebol (SAF); da internação compulsória dessa gente perdida de si que circula pelas cidades; da mudança de sexo na infância; da inteligência artificial? Houve uma época em que, reconhecendo nossa ignorância, procurávamos ler algum artigo para pelo menos entender o que estava em jogo. Agora vem tudo num vapt-vupt de um post, sem contar a lavagem cerebral das mensagens capciosas que pousam na tela do celular – preparadas com o intuito único de angariar devotos a causas escusas.
Estou sofrendo um burnout cívico. Tomo chá de camomila? De cogumelo? Passo a andar de olhos vendados? Me chafurdo na leitura de entretenimento? Ouço apenas os discos da Xuxa? Entro com uma ação pedindo ressarcimento por assédio moral? Me entoco no meio do mato?
Ô Brasil difícil! Melhor pensar que é assim em tudo quanto é canto. Viver em comunidade, por menor que ela seja, significa embates, lutas por espaço; no fundo, disputa de poder. Tudo bem, mas, aqui na terrinha, estamos caprichando. Não é mais uma questão de participação política ou alienação, é o excesso. Sei da importância de ninguém soltar a mão de ninguém, mas, por favor, soltem a minha, preciso sair correndo. Doutor, vou ter um troço.
Corro, mas do Brasil não saio e continuarei a lutar por ele. Só que estou doente dessa contenda na qual entro com a impressão de ser um inocente útil, o zé-mané cansado. Vejo que muitos brasileiros, atrasados, decidiram pelo deixe-o do ditatorial “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Se debandaram para Portugal, Estados Unidos, Austrália, não sei mais onde, com a esperança de fugir de nossas mazelas. Essa turma se esquece de que, num mundo globalizado, o Brasil enviará, via TV, streaming etc., sua dose diária de racismo, homofobia, misoginia e entornará o caldo sujo da injusta distribuição de renda na cara de todos, todas e todes (abraçado à erudição, rechaço o novo pronome, ou, fiel à urgência do agora, abraço-o?). Não se pode esquecer do tio do zap e seu empenho em compartilhar absurdos de toda espécie. De um jeito ou de outro, como o Brasil fincará as garras nos que se ausentaram, cair fora não resolve nada. Pelo menos com isso me consolo.
Então dou de ombros? Bebo o bar da esquina? Todos os bares da rua? Os da cidade? Me caso com vinte mulheres? Assalto um banco? Vou curar berne de bois soltos em pastos abertos pela grilagem no Pará?
Talvez eu melhore fugindo das tretas impostas pelos outros e inventando as minhas. Sertanejo universitário não é nem sertanejo nem universitário. Goiabada é o melhor doce do mundo (seguido de perto pelo arroz-doce), mas nem pensem na cascão, que não chega aos pés da lisa. Os grandes designers criam coisas estupendas, lindas e cheias de sabedoria, mas ninguém até hoje fez nada tão simples e tocante quanto a estrela solitária do Botafogo. Para cada xícara de arroz, duas e meia de água quente; qualquer coisa diferente disso é embuste e má culinária. Não fosse o chifre, o de Capitu em Bentinho, o Brasil nem teria uma literatura nacional.
Ando me identificando com a galinha-d’angola: Tô fraca!, tô fraca!, tô fraca! Que canseira.
Alexandre Brandão
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