quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Em que lugar dos Estados Unidos se refugiará Bolsonaro

Conta a lenda que, um dia, duas das maiores raposas da política brasileira se encontraram no aeroporto de Belo Horizonte – José Maria Alckmin, deputado federal muitas vezes, ex-ministro da Fazenda e vice-presidente da República no governo Castelo Branco, e Benedito Valadares, deputado federal, senador e governador de Minas Gerais nos anos 1930, ambos do velho PSD.

Alckmin, então, perguntou a Valadares no cafezinho do aeroporto:

– Você vai para onde, Benedito?

– Vou para o Rio – respondeu Valadares.

Despediram-se. E a um amigo que o acompanhava, Alckmin sussurrou depois:

– Ele disse que vai para o Rio para que eu pense que ele irá para Brasília, mas ele irá para o Rio mesmo.

Bolsonaro está de malas arrumadas para voar aos Estados Unidos, como confidenciam seus principais assessores. Mas nem eles sabiam até ontem qual seria exatamente o destino dele – Miami ou Orlando, na Flórida? Ou outra cidade qualquer? Sob o manto protetor do ex-presidente americano Donald Trump, derrotado como ele, ou por conta própria?


Bolsonaro disse que irá para um lugar onde não possa encontrar brasileiros. Miami e Orlando estão cheias deles. O escalão precursor da viagem decola hoje para onde ele quiser. O Itamaraty será informado em seguida. Quem pagará as despesas da viagem e o exílio que poderá durar de dois a três meses? Talvez Bolsonaro decrete sigilo sobre essas e outras informações.

O mentor do chamado “Gabinete do Ódio”, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), está nos Estados Unidos à espera do pai. De lá, instruiu seus seguidores a espalharem nas redes sociais que Bolsonaro, sua família e os aliados mais fiéis serão alvo de uma “perseguição cruel e implacável” tão logo Lula tome posse. Ele fala na condição de especialista no assunto.

É mais do que certo que Lula suspenderá o sigilo de 50 e de até 100 anos que encobre informações que, se reveladas, causarão profundo incômodo à primeira família presidencial brasileira e aos seus serviçais. Várias delas poderão resultar na abertura de novos processos contra Bolsonaro ou reforçar processos que ele responde por abuso de poder e atos antidemocráticos.

A fuga para outro país se justifica por isso. Distante, ele não será assediado pela imprensa para responder a cada nova acusação e estará a salvo de juízes da primeira instância que poderiam prendê-lo. Falta saber se a primeira-dama Michelle o acompanhará ou não. Michelle e Carlos se detestam. E Carlos acha que ela é culpada em parte pela derrota do pai.

Falta saber também quem o substituirá na presidência. Seu mandato termina à meia-noite de sábado. Lula será empossado a partir das 14h do domingo. O país não pode ficar sem presidente. O vice, general Hamilton Mourão, eleito senador pelo Rio Grande do Sul, deveria assumir, mas não quer. O terceiro na linha de sucessão é o deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara.

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