quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Os novos subversivos

É tocante: homens, mulheres e crianças fantasiados de verde-amarelo e enrolados em bandeiras, ajoelhados e de mãos postas diante dos quartéis, implorando que os militares salvem o Brasil. Esta salvação consiste em impedir, a sabre e cavalo, a posse do presidente eleito e manter no poder o derrotado, parece que ainda em exercício. Como a alternância do poder pelo voto direto é uma condição da democracia e, segundo a Constituição, o Brasil é um estado democrático de direito, é acintoso que se pregue aberta e impunemente um golpe de Estado. Mas o que espanta é que os quartéis ouçam toda essa subversão e fiquem em silêncio.


A palavra subversão já foi mais bem cotada na tropa. No dia 13 de março de 1964, uma multidão diante do antigo Ministério da Guerra, na avenida Presidente Vargas, no Rio, exigia que o presidente da República, João Goulart, desse um golpe preventivo contra as forças que, todos sabiam, se aglutinavam para derrubá-lo. Os generais de então viram naquele apelo uma "subversão da ordem" e derrubaram Goulart.

Hoje, os subversivos usam o sinal trocado, mas a soma é igual: a subversão da ordem democrática, pregada diante de prédios militares. A diferença é que, para as atuais Forças Armadas, isso não é mais subversão, mas "liberdade de expressão".

Para os fardados de 1964, os subversivos eram financiados por Moscou. Em 2022, Moscou tem mais o que fazer do que financiar subversões no Brasil. E nem os atuais subversivos precisam de apoio externo — são bancados por brasileiros mesmo, como empresários do agro e do tiro, pastores, políticos e policiais, que lhes fornecem segurança, transporte, comida, água, abrigo, bandeiras e as frases, inclusive em inglês, para as faixas que eles desfraldam em praças e estradas.

E, quem sabe, uma diária para fazê-los expressar com mais fervor essa liberdade que soa como música para os militares.

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