Ao ver a cena revoltante em que Gil e Flora foram acossados e agredidos, uma imagem ficou. Gil parece o tempo todo uns degraus acima da barbárie, como se flutuasse sobre o ódio e a ignorância, sentimentos tão mundanos para quem já alcançou outra dimensão. Naquele patamar em que vivem apenas os deuses da sabedoria, da sensibilidade, da escuta, da paz.
Não foram analistas e cientistas políticos, colegas de profissão, os que acalmaram meu coração diante de todas as ameaças que vivemos e que continuaremos a enfrentar, mas a frase dita num fim de tarde de junho: "o mundo só anda para frente".
Eu me lembrei de livros que ecoam esse otimismo, dos quais falei para Gil em nossa conversa sobre o futuro do país. "Utopia para Realistas", de Rutger Bregman, e "O Novo Iluminismo", de Steven Pinker, olham nessa mesma direção: para frente. O que não significa que o mundo seja cor-de-rosa, que os humanos sejam pura bondade e que a natureza não seja caótica, como pondera Pinker.
Mas em momentos em que vivemos agitações sociais e questionamentos sobre o trabalho, o dinheiro, a família e a felicidade temos a oportunidade de passar por grandes transformações. Bregman cita marcos da civilização que já foram ideias utópicas, tais como o fim da escravidão e o início da democracia, para mostrar que podemos construir uma sociedade melhor com ideias visionárias, mas viáveis.
Humanos subdesenvolvidos são maus, ressentidos, agressivos. Gilberto Gil sabe que o mundo anda para frente porque já chegou num grau de evolução que para a maioria está apenas nos livros, que ainda devo para ele.
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