domingo, 4 de setembro de 2022

Os Bolsonaros já fizeram sua independência

Nelson Rodrigues — que anda atualíssimo — dizia faltar "espanto político" ao Brasil. Com seu estilo inconfundível, deu um exemplo:

"Se baixassem um decreto mandando a gente andar de quatro —qual seria a nossa reação? Nenhuma. (...) Cada um de nós trataria de espichar as orelhas, de alongar a cauda e ferrar o sapato. No primeiro desfile cívico, o brasileiro estaria trotando na Presidente Vargas, solidamente montado por um Dragão de Pedro Américo. E seria lindo toda uma nação a modular sentidos relinchos e a escoucear em todas as direções".

A citação ao quadro "Independência ou Morte!" lembra as comemorações deste Sete de Setembro, que sob o governo Bolsonaro seguem as regras da vergonha e do assombro. Última cartada da campanha que não vê o presidente subir nas pesquisas ou mais um movimento estratégico em direção ao golpe, o desfile do bicentenário —que no Rio trocou a Presidente Vargas pela avenida Atlântica, em Copacabana— foi sequestrado politicamente, a exemplo das cores verde e amarela da bandeira e da camisa da seleção.


As Forças Armadas preparam uma programação de oito horas (!) na praia. Se fizer sol, haja protetor solar e água de coco. Salto de paraquedistas na areia, salvas de canhão no forte do Posto 6, apresentação da Esquadrilha da Fumaça, parada naval ao longo da costa. A motociata do candidato à reeleição sairá do Monumento dos Pracinhas, no Flamengo, para encontrar, no gran finale, velhas viúvas da ditadura carregando cartazes de intervenção militar e pedindo o fim do STF. Os custos da farra patriótica não foram informados.

O que menos importa a Bolsonaro é o Brasil. Sua independência e a do seu clã ele já conseguiu, influindo na compra de 107 imóveis, entre os quais a mansão de R$ 6 milhões do filho 01 e outra de R$ 3 milhões da ex-mulher. Metade do patrimônio foi adquirida com uso de dinheiro vivo. Isso sim é um espanto.

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