Em Brasília encena-se no momento o teatro do golpe. O deputado Daniel Silveira —ex-PM que rasgou a placa em homenagem a Marielle Franco— sabia desde sempre que seria condenado pelo STF e poderia pegar longo tempo de prisão e perder os direitos políticos. Mesmo assim, fez o jogo do chefe, pois também sabia que o indulto estava engatilhado. A bela palavra "graça" nunca foi tão aviltada.
Em arranjo disposto nos mínimos detalhes, Silveira —que nas últimas semanas conversou diversas vezes com Bolsonaro e os generais do Planalto— nem disfarçou suas intenções. Ao contrário, agiu da maneira mais exibicionista possível, recusando-se a usar tornozeleira, dizendo que não aceitaria a decisão do Supremo e exigindo um julgamento no Superior Tribunal Militar.
As costas quentes estendem-se até o presidente da Câmara, Arthur Lira, que não levou ao plenário um parecer do Conselho de Ética sugerindo a suspensão do mandato de Silveira. Para os tolos ou para os golpistas (ambos navegam no mesmo barco), o deputado continuou vestindo a fantasia de defensor das liberdades de opinião.
Sem conseguir aproximar-se significativamente de Lula, o líder das pesquisas, e com rejeição de 60%, Bolsonaro está vendo o caminho da reeleição se fechar. Não tem como explicar a corrupção no governo, o desemprego, a inflação, a fome. Resta-lhe manter as milícias digitais incendiadas, afrontar, ao lado das Forças Armadas, o STF, adversário preferido, e tumultuar o país. Os sobressaltos estão aí. Virão outros.
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