sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Lula não é minha mãe

Fui ouvir a entrevista que Lula (foto) concedeu hoje a rádios do Paraná e, lá pelos 11 minutos da conversa, senti aquilo que minha tia Albertina chamava de “arrepio nos dentes”. O presidenciável petista estava dizendo que deu atenção especial aos pobres em seus dois mandatos. Então, ele usou uma metáfora.

“Nós fizemos o que faz uma mãe”, disse Lula. “Ou seja, ela cuida de todos os filhos em igualdade de condições, mas aquele que está mais fragilizado é aquele que ela vai fazer um cafuné a mais, que ela vai cuidar melhor, que ela vai dar um pedaço de carne a mais, um copo de leite a mais.”



Foi como voltar ao início dos anos 2000, quando as metáforas de Lula atingiam você em rajadas, dia sim e outro também, todas elas sobre família e futebol. Lembrei mais uma das razões por que não quero que o PT retorne ao governo.

Essa não é, obviamente, a principal razão. Há coisas muito mais graves. Não acredito nas soluções estatizantes do partido para a economia. Além disso, ouço Gleisi Hoffmann dizer que o PT nunca fez nada de errado na Petrobras, e sinto que eles não hesitarão em corromper o sistema político mais uma vez, como no mensalão e no petrolão, quando sentirem aquela tentaçãozinha de permanecer no poder pelos próximos sete mil anos.

Não acho, porém, que as escolhas retóricas de um político sejam totalmente irrelevantes.

Essa ideia do governante paizão ou mãezona, que zela pelo bem estar da meninada, é especialmente perniciosa. Ela eleva o político e diminui os cidadãos.

Lula não é minha mãe. O estado não é nosso pai. E o Código Eleitoral não é o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Não vou discorrer sobre a retórica de Bolsonaro. Digo apenas que não desejo ao Brasil outros quatro anos de vulgaridade ululante e metáforas matrimoniais. Por isso, continuo torcendo pela Terceira Via e pela eleição de alguém que não seja nem pai, nem mãe, nem herói, nem vingador, nem salvador da pátria. Basta que seja um bom presidente.

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