Não faltam no Brasil, hoje em dia, veículos jornalísticos novos. O gargalo não está no surgimento, mas na dificuldade deles se manterem de pé. E essa dificuldade não decorre das leis sobre a imprensa serem da década de 1960 e estarem ultrapassadas, como sugeriu Lula, mas da ausência de planos sérios para o setor.
A única política pública existente para a imprensa é a de governos distribuírem verba de publicidade estatal a quem lhes for conveniente, algo legal e imoral que passa longe de ser um instrumento democrático e que se fez presente, inclusive, – ou sobretudo – nos governos do ex-presidente.
Se alguma regulação é necessária, decerto não é a da imprensa, mas a das grandes plataformas, as big techs, responsáveis pela distribuição e capitalização do conteúdo dos veículos de imprensa na internet, ou seja, pela audiência e, consequentemente, pela possibilidade de que esses veículos sejam – ou não – financeiramente independentes do governo ou de qualquer outra teta com leite azedo.
Precisamos de leis para essas plataformas. As que temos para a imprensa são suficientes e não estão ultrapassadas. A forma de Lula pensar o tema é que é ultrapassada.
Na última quarta-feira, durante discurso de abertura dos trabalhos legislativos no Congresso, Bolsonaro criticou o desejo regulatório de Lula e disse ser ele o verdadeiro defensor da liberdade de expressão.
Bolsonaro não regula, mas xinga e persegue jornalistas, ataca e descredibiliza veículos. Quando acuado, diz jogar dentro das quatro linhas. Fora das quatro linhas, manda seus dirigentes ameaçarem e constrangerem adversários no vestiário, como era feito no futebol antigo, da época da ditadura de que ele é saudosista.
Nem um nem outro defende liberdade alguma. Ninguém quer democratizar as mídias. Liberdade de expressão é apenas um mote eleitoreiro que soa bem no microfone de piquetes e palanques. Nada mais.
A liberdade de expressão não passa de um inconveniente, uma chateação com que precisam lidar, uma espécie de verruga esquecida enquanto não é notada e sobre a qual o médico recomenda: se incomodar muito, a gente arranca.
A liberdade de expressão é uma verruga constitucional. Vai sobrevivendo enquanto não incomoda muito.
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