sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

A ironia que nos salva

Vivemos nessa selva. A imensa maioria está doente de impotência e de ressentimento. E alguns poucos como nós, marginais doentes de nostalgia e presos ainda a um punhado de valores que alguém nos mostrou alguma vez serem universais, sobrevivemos apenas à força da ironia. Neste contexto social individualista, decadente e cada vez mais violento, que para muitos é a inevitável pós-modernidade, é impossível alcançar o equilíbrio. Para os que ainda acreditamos na superioridade da ética, e conservamos um ou dois princípios, e emperdenidamente acreditamos na existência de utopias que valem a pena, o equilíbrio em si se transforma em utopia. Porque, na pós-modernidade, todas as forças se desataram com exagero: há mais gente, mais carências, mais fome, mais injustiças, mais filhos da puta, mais conflitos e cada vez mais graves. O individualismo à antiga é a única coisa que lhes permite sobreviver, só que à custa da loucura e da selvageria
Mempo Giardinelli, "Impossível equilíbrio"

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