É uma liderança indiferente ao sofrimento do povo, que ao mesmo tempo busca votos nos segmentos mais pobres da sociedade. Trata-se de um populismo diferente, com o líder bufão, que fala apenas para seu público, com palavras chulas, de baixo calão e sem conexão com a realidade.
Ele opera ao lado de algumas religiões neopentecostais e distribui esmolas para os necessitados de tempos em tempos. E mantém o gabinete do ódio especializado em fazer e desfazer reputações.
Experimento diferente em matéria de política no Brasil. Os militares integram o governo, mas não constituem o centro das decisões. São assessores qualificados, porque o presidente não é filiado a nenhum partido, não tem assessoria, nem consultores profissionais.
O centro do poder é concentrado no conjunto Bolsonaro & filhos. Trata-se de um escritório, que recebe, às vezes, contribuições da primeira-dama usualmente preocupada com deficientes físicos. Este é o núcleo. O resto é periferia.
O presidente dorme pouco. Gosta de trabalhar dentro do enorme closet nos aposentos presidenciais no Palácio da Alvorada. Literalmente, ele atua dentro do armário.
Não fez um único gesto de apreço, de sentimento ou solidariedade para doentes e seus familiares. Nem enviou pêsames à família do senador Major Olímpio, que foi seu correligionário. Ele mantém os olhos fixos em 2022 e faz questão de não enxergar nada do que ocorre a seu redor.
Indiferença notável, jamais vista por aqui. As mortes não distinguem situação financeira, cor, raça ou credo. Elas se espalham pela sociedade. As filas de ambulâncias nas portas de hospitais são horripilantes.
Até as funerárias estão em colapso. Hospitais estão superlotados. Mas, o ex-Ministro da Saúde chegou a dizer, tempos atrás, no microfone e em voz alta: ‘não sei por que tanta pressa’.
Há uma cegueira deliberada na ação do presidente. Ele não enxerga a doença. Acredita em remédios condenados por entidades científicas. Todo o resto é frescura, gripezinha, mimmi e outras interjeições menos publicáveis.
A pandemia entrou na categoria de assunto pessoal. Um jogo do presidente brasileiro, junto com filhos, versus o desfile de mortos nas unidades de tratamento intensivo e desafortunados que não conseguiram chegar aos hospitais. Cenário pavoroso.
A história do Brasil está repleta de episódios violentos no Império e na República. Mas, eles decorrem de tentativas revolucionárias. Nunca por decisão pessoal do chefe do governo que resolve ignorar a realidade.
Agora ele pretende trilhar o caminho perigoso de buscar no Supremo Tribunal Federal argumentos constitucionais para submeter estados e municípios à sua competência originária.
Aventura jurídica complexa, demorada e destinada a ter sérias repercussões políticas. Não é bom brincar com estado de sítio. João Goulart, o Jango, tentou manobra semelhante pouco antes de ser derrubado. É a confissão da impossibilidade de o governante atingir seus objetivos pelos meios legais disponíveis.
Os senadores não estão satisfeitos com a postura do governo. Os principais expoentes do Centrão também não. Eles indicaram a doutora Ludmila Hajjas para o cargo de Ministro da Saúde. Mas o conjunto Bolsonaro & filhos escolheu Marcelo Queiroga. E, de imediato, organizou o ataque contra a médica goiana nas redes sociais.
O objetivo foi destruir a reputação da indicada pelo Congresso. Ou seja, o presidente, no seu armário, ignorou o conselho de correligionários. É bom lembrar que o mesmo grupo de parlamentares, chamado Centrão, apoiou Dilma Rousseff somente até a véspera do impeachment.
O deputado de fundo de plenário, por obra de uma série de coincidências, transformou-se em Presidente da República, sem equipe, sem assessores e sem programa. Desenvolveu paranoia profunda. Teme golpe contra ele. Decidiu sacrificar seu povo em nome de salvar a economia. Mas o país já foi tragado pela crise. Jogo jogado. Acabou.
Paulo Guedes está na contramão do mundo. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assinou programa de auxílio de quase dois trilhões de dólares. Está chovendo dinheiro sobre o cidadão norte-americano. A força do mercado se dissolveu na crise sanitária.
O único remédio para a economia agora é simples: vacinar, vacinar e vacinar. Além disso, resta apenas a estranha compulsão de cortejar a morte.
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