O último ato de terror aconteceu na cidade de Olímpia, no interior de São Paulo, contra José Antonio Arantes, editor do jornal local que quase morreu junto com a mulher e a neta de sete anos enquanto dormiam. Atearam fogo na casa durante a madrugada e se não fossem os dois cachorros que os despertaram com o quarto já cheio de fumaça e fogo, toda a família teria morrido. “Mais quinze minutos e teríamos todos morrido sufocados pelo fogo”, disse o jornalista, que acrescentou: “Estou há 40 anos na profissão, comecei minha carreira já no final da ditadura. Não vou abrir mão de lutar pelo meu povo e contra qualquer tipo de terrorismo e pensamento político que visem tirar a liberdade e suprimir os direitos de minha população”.
Outro jornalista, do O Estado de Minas há 20 anos, foi agredido durante uma manifestação de bolsonaristas com pontapés e pancadas na cabeça dadas com um capacete de motociclista aos gritos de “Comunista! Não vamos deixar!”. O jornalista comentou: “A ferida está na alma. Saber que temos um líder no país que incentiva a violência”. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) escreveu que “o extremismo e a intolerância contra jornalistas atingem toda a sociedade”.
É sabido que os grandes incêndios que devastam florestas inteiras às vezes começam com uma ponta de cigarro acesa. O mesmo acontece na política. Muitas das grandes tragédias da humanidade às vezes começaram com um único tiro de pistola e acabaram manchando de sangue países inteiros.
O Brasil está numa situação grave e perigosa que, se não for contida a tempo, pode arrastar o país para as cenas dantescas vistas no final do Governo Trump. As instituições do Estado responsáveis pela defesa dos direitos sancionados na sociedade não podem fechar os olhos nem pensar que Bolsonaro ainda pode mudar, defender os valores da liberdade e acalmar suas hostes violentas. Em mais de dois anos de Governo já deu provas suficientes de que sua personalidade negacionista, destrutiva e violenta não vai mudar.
Como vários psiquiatras já indicaram, sua personalidade pertence a pessoas com traços de patologia impossíveis de curar. Em sua coluna no jornal Folha de S. Paulo, intitulada Jair Messias e o ‘pai dos psicopatas’, Guido Palomba cita o psiquiatra alemão Kurt Schneider, que em seu último livro tenta decifrar os transtornos de personalidade em tempos de tensão.
São disfunções de personalidade “com ausência de sentimento de piedade, compaixão e altruísmo; falta de valores éticos e morais e incapacidade de se sentirem culpados. São pessoas sem remorso e arrependimento”. São pessoas sem ressonância afetiva com a dor alheia. Por vaidade exagerada, sentem-se acima de tudo e de todos. São personagens agressivos, mal-educados e provocadores.
O psiquiatra alemão os compara aos oligofrênicos e os descreve como pessoas que, se voltam atrás, não é para reconhecer seus erros, mas por estratégia. “Rancorosos e vingativos reagem com virulência”, e conclui significativamente: “Ninguém os detêm, salvo uma reprimenda enérgica judicial ou legal”.
Seria possível dizer que, se o capitão responde a esse distúrbio psiquiátrico, é inútil continuar esperando dele alguma conversão milagrosa. Agora os responsáveis são os que têm o poder, com a lei nas mãos, de pôr fim a essa barbárie que oprime cada vez mais este país, ameaçando deixá-lo à própria sorte, deixando que a epidemia o devore com gente morrendo nos corredores dos hospitais à espera de uma UTI.
Deixar um país inteiro à deriva, não por falta de recursos, mas de liderança, é um crime que também recai sobre as autoridades incapazes de intervir.
Juan Arias
Nenhum comentário:
Postar um comentário