Coimbra, 31 de outubro de 1957 - O ódio não cansa - diz o rifão. E realmente. Mas cega. (...) condenado à realidade de investir instintivamente, sem lógica e sem medida comete erros sobre erros Acumula torpezas, dá foros de evidência ao absurdo, apresenta como verosímil o inverosímil. Na ânsia de demonstrar o que não tem demonstração possível, por ser apenas um movimento sentimental agressivo, excede-se em falsidades. E essa abundância de marradas intempestivas e tolas acaba por gerar nos mais desinteressados a desconfiança e o desejo de tirar a limpo a verdade. E volta-se, nessa altura, o feitiço contra o feiticeiro. Passa o odiento então a ser julgado, não pela aversão subjectiva dum só, mas pela isenção objectiva de todos.
Miguel Torga, "Diário"
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