Jair Bolsonaro não está mais fazendo questão de disfarçar que vem exigindo mais serviço do ministro da Economia no quesito crescimento. Nesta quarta, logo após a divulgação do número do IBGE para a evolução da economia seu primeiro ano de governo — menor do que o último de Michel Temer —, o presidente montou um espetáculo na porta do Alvorada para escapar de perguntas sobre o assunto. Entre uma e outra banana oferecida aos jornalistas pelo comediante da Record vestido de presidente, porém, Bolsonaro fez uma única observação: o problema do PIB é do Posto Ipiranga.
Se já andava alta, a pressão sobre Paulo Guedes será redobrada depois do PIB oficial. Além dos generais do Planalto, uma parte da área política também parece ter perdido a boa vontade em relação ao ministro. A ansiedade cresce. Afinal, tem eleição municipal este ano, e os políticos ligados ao governo temem sua nacionalização e os ganhos que a oposição poderá ter com o discurso da estagnação da economia.
Nas hostes governistas, há pessoas de bom senso que acreditam que, se está ruim com Guedes, pode ser pior sem ele. Lembram que o ministro da Economia ainda é a principal âncora do governo junto ao mercado, inclusive internacionalmente, e aos setores do PIB. Mesmo com sua credibilidade em curva descendente — já que quase nada do que prometeu está se cumprindo —, consideram que será difícil, para Bolsonaro, conseguir um substituto com o mesmo perfil.
Por isso, acham que o presidente vai manter seu jogo de pressionar Guedes, desvinculando-se da imagem de quem não fez ainda a economia crescer e multiplicando as cobranças públicas, mas vai mantê-lo no cargo. Mesmo entre esses, porém, não há tanta segurança assim: quem é que sabe, afinal, o que se passa na cabeça de Bolsonaro? Ninguém, talvez nem ele mesmo.
Até por isso, o ministro da Economia, que pode ter lá sua falta de traquejo político mas não é bobo, parece estar asfaltando uma estrada que poderá, se necessário, conduzi-lo a uma saída honrosa, aparentemente por iniciativa própria.
O prazo de quinze semanas para aprovação da agenda econômica que está no Congresso — e também da que não está, como a reforma administrativa — , ao qual o Guedes se referiu na terça-feira em conversas com movimentos empresariais, é absolutamente inviável. Todo mundo sabe que, ao dizer que tem pouco mais de três meses e meio para “mudar o Brasil”, o ministro tem perfeita consciência de que não mudará o Brasil. Mas ganha uma boa desculpa para pedir o boné e botar a culpa de tudo no Congresso.
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