sexta-feira, 6 de março de 2020

O prazo de validade de Paulo Guedes

A conversa nos bastidores do Congresso esta semana — que começou antes da divulgação do pibinho de 1,1% de 2019 — é de que o prazo de validade do ministro da Economia, Paulo Guedes, estaria chegando ao fim. Menos pelo estado de ânimos do ministro, apontado muitas vezes como um fator que poderia levá-lo a chutar o balde em algum momento, do que pelo clima de cobrança em relação aos resultados da economia que impera hoje no Palácio do Planalto.


Jair Bolsonaro não está mais fazendo questão de disfarçar que vem exigindo mais serviço do ministro da Economia no quesito crescimento. Nesta quarta, logo após a divulgação do número do IBGE para a evolução da economia seu primeiro ano de governo — menor do que o último de Michel Temer —, o presidente montou um espetáculo na porta do Alvorada para escapar de perguntas sobre o assunto. Entre uma e outra banana oferecida aos jornalistas pelo comediante da Record vestido de presidente, porém, Bolsonaro fez uma única observação: o problema do PIB é do Posto Ipiranga.

Se já andava alta, a pressão sobre Paulo Guedes será redobrada depois do PIB oficial. Além dos generais do Planalto, uma parte da área política também parece ter perdido a boa vontade em relação ao ministro. A ansiedade cresce. Afinal, tem eleição municipal este ano, e os políticos ligados ao governo temem sua nacionalização e os ganhos que a oposição poderá ter com o discurso da estagnação da economia.

Nas hostes governistas, há pessoas de bom senso que acreditam que, se está ruim com Guedes, pode ser pior sem ele. Lembram que o ministro da Economia ainda é a principal âncora do governo junto ao mercado, inclusive internacionalmente, e aos setores do PIB. Mesmo com sua credibilidade em curva descendente — já que quase nada do que prometeu está se cumprindo —, consideram que será difícil, para Bolsonaro, conseguir um substituto com o mesmo perfil.

Por isso, acham que o presidente vai manter seu jogo de pressionar Guedes, desvinculando-se da imagem de quem não fez ainda a economia crescer e multiplicando as cobranças públicas, mas vai mantê-lo no cargo. Mesmo entre esses, porém, não há tanta segurança assim: quem é que sabe, afinal, o que se passa na cabeça de Bolsonaro? Ninguém, talvez nem ele mesmo.

Até por isso, o ministro da Economia, que pode ter lá sua falta de traquejo político mas não é bobo, parece estar asfaltando uma estrada que poderá, se necessário, conduzi-lo a uma saída honrosa, aparentemente por iniciativa própria.

O prazo de quinze semanas para aprovação da agenda econômica que está no Congresso — e também da que não está, como a reforma administrativa — , ao qual o Guedes se referiu na terça-feira em conversas com movimentos empresariais, é absolutamente inviável. Todo mundo sabe que, ao dizer que tem pouco mais de três meses e meio para “mudar o Brasil”, o ministro tem perfeita consciência de que não mudará o Brasil. Mas ganha uma boa desculpa para pedir o boné e botar a culpa de tudo no Congresso.

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