É de embrulhar os mais rijos estômagos, tão desprevenidos de manhã. A mim, soam particularmente ofensivos, porque não gosto que me pespeguem a pátria amada sem minha autorização. Não por ter algo contra a dita pátria —perdi a conta das vezes em que, nos anos 60, saí às ruas do Rio por ela, levei borrachadas no lombo e passei algumas horas numa cela da rua da Relação. É que não sei se estamos falando da mesma pátria. Se for a atual, dedicada a destruir a educação, o ambiente, as relações exteriores, os direitos humanos e a cultura, pode ser a mesma, mas não será amada.
Roberto Alvim, o Goebbels de galinheiro, tinha uma bandeira do Brasil ao seu lado no vídeo em que pregou uma "nova arte nacional", "heroica" e sujeita ao seu diktat de, então, secretário da Cultura de Bolsonaro. O que farão com aquela bandeira tão ultrajada? Será suficiente lavá-la, esfregá-la com sabão? E quem garante que ela não será levada a enfeitar o gabinete de Regina Duarte, substituta de Alvim e, com certeza, herdeira das políticas de seu antecessor para a pasta?
O problema não está nos símbolos, mas em quem os encarna. Minha geração, que chegou à maioridade por volta de 1964, desenvolveu alergia ao Hino Nacional de tanto ouvi-lo como prefixo daqueles homens sombrios, fardados e de óculos escuros.
Eles também quiseram nos impor uma pátria amada. E custou, mas a pátria decidiu diferente.Ruy Castro
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