Por uma dessas ironias da história, Toffoli e a República fazem aniversário no mesmo dia. Nesta sexta-feira, a República completa 130 anos. Toffoli, 52. Em data tão especial, o procurador-geral da República Augusto Aras pediu a Toffoli que revogue a ordem que resultou no envio ao Supremo dos dados bancários e fiscais sigilosos de 600 mil pessoas e empresas. Toffoli respondeu com a velocidade de um raio. Indeferiu o pedido de Aras.
Na véspera, instado a explicar por que requisitou ao Banco Central relatórios produzidos nos últimos três anos pelo antigo Coaf e pela Receita Federal, Toffoli mandou dizer que não comenta processos sigilosos. É como se, sob a presidência de Toffoli, o Supremo criasse sua própria monarquia. No sistema monárquico, só uma pessoa usa a coroa, o manto e o cetro. No caso específico, houve uma autocoroação. O presidente do Supremo autoproclamou-se Dom Toffoli 1º.
Como se sabe, há dois tipos de monarquia: as absolutas e as constitucionais. Toffoli optou pelo primeiro modelo. O absolutismo lhe pareceu mais conveniente porque, nesse modelo, o soberano não deve nada a ninguém. Muito menos explicações. A silhueta do monarca já havia se insinuado atrás da toga em março, quando Toffoli 1º determinou a abertura de inquérito secreto no Supremo para apurar ataques à Corte e aos seus membros.
Acumulando os papeis de vítima, investigador e julgador, o Supremo de Toffoli ganhou a aparência de anomalia. A requisição dos dados sigilosos de 600 mil brasileiros potencializou a anormalidade. Toffoli 1º convidou os amigos para celebrar seu aniversário neste sábado. A festa ocorrerá em São Paulo. Deve-se torcer para que, fora das dependências do Supremo, o soberano reencontre nas ruas de São Paulo a República cuja proclamação ele parece ignorar.
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