Há método no silêncio do capitão. Conforme já comentado aqui, Bolsonaro e o pedaço do asfalto que lhe é fiel passaram a trafegar em faixas opostas. O presidente frita Sergio Moro, gruda em Deltan Dallagnol a pecha de esquerdista, hesita em vetar artigos da lei de abuso de autoridade. Tudo isso e mais a proximidade com Dias Toffoli. A rua enaltece Moro, sonha com Deltan na chefia da Procuradoria, pede o veto integral à lei anti-Lava Jato. E ainda exige o impeachment de Dias Toffoli.
Como não tinha nada a dizer sobre as demandas dos seus apologistas, Bolsonaro se absteve de demonstrar seus paradoxos em palavras. Ao longo do final de semana, inúmeros internautas postaram comentários nas redes sociais instando o presidente a sintonizar-se com a rua. Um deles, identificado como Bunny Sam, conseguiu arrancar meia dúzia de palavras do presidente. Não deve ter gostado do que leu.
"Cuide bem do ministro Moro", escreveu o internauta. "Você sabe que votamos em um governo composto por você ele e o Paulo Guedes". Em sua resposta, Bolsonaro não disse se irá retirar Moro do micro-ondas. E ainda insinuou que não se considera um devedor do ex-juiz. "Com todo respeito a ele, mas o mesmo não esteve comigo durante a campanha".
Se conversasse com seus botões, Bolsonaro talvez retornasse às redes sociais, nesta segunda-feira, para dar respostas às demandas de seus súditos. Sob pena de transformar dúvidas em hostilidade.
Na sexta-feira, nas pegadas de manifestações de rua em defesa da Amazônia, Bolsonaro ocupou uma rede nacional de tevê para tratar da encrenca das queimadas. Conseguiu ressuscitar as panelas. Se continuar desprezando a opinião dos seus adoradores, arrisca-se a juntar numa próxima manifestação a turma do panelaço com a tropa dos desiludidos.
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