O primeiro está no sentimento de que não somos vocacionados para estarmos entre os melhores do mundo em educação. Somos e queremos continuar sendo os melhores com os pés, não com o cérebro. Raros lembram e lamentam que, ao longo de 130 anos de República, ao menos 20 milhões de adultos brasileiros morreram analfabetos e que outros 11 milhões estão vivos hoje sem ao menos reconhecer nossa bandeira por não saberem ler “ordem e progresso”.
Mesmo quem investe na escola dos filhos quer mais assegurar o salário que eles terão do que fazê-los intelectuais educados. Por isso, lamentam quando o filho diz que quer ser filósofo ou professor no lugar de seguir carreira que permita ganhar bem. O descontentamento de uma pessoa com a opção do filho pelo magistério decorre do sentimento nacional de que nos falta vocação para a educação.
Um terceiro obstáculo decorre de não termos percebido ainda que o vetor do progresso está no conhecimento. Nossa Constituição diz que educação é um direito de cada pessoa, não uma necessidade de todo o país. Em cada navio negreiro havia marujo para impedir que escravos desesperados saltassem ao mar, porque o suicídio era visto como prejuízo para o proprietário e para a economia, que perderia a força de seus braços. Mas não temos especialistas trabalhando para impedir que os jovens de hoje abandonem as escolas, porque não temos a percepção de que isso sacrifica não apenas o futuro da criança ou do jovem, mas de todo o Brasil ao se perder o potencial de seus cérebros.
A tragédia da educação brasileira tem muitas razões práticas, mas não vamos superar o atraso e a desigualdade enquanto não tivermos uma mudança de mentalidade nem superarmos esses três obstáculos fundamentais. Não venceremos a guerra pela educação enquanto não entendermos que ela é o vetor do progresso nem acreditarmos e desejarmos que o Brasil possa estar entre os melhores do mundo na qualidade da educação acessível a todos, independentemente da renda e do endereço do aluno.
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