segunda-feira, 15 de julho de 2019

É claro que Bolsonaro não ouve os militares, apenas faz uso deles, quando precisa

O fato de representar o antiLula beneficia expressivamente Jair Bolsonaro. Apesar dos muitos erros cometidos, uma expressiva parcela do eleitorado ainda confia no atual governo apenas porque conseguiu tirar o PT do poder. Este é o principal argumento dos defensores do presidente, e somente agora alguns deles começam a cair na realidade.

Daqui para frente, as críticas vão se acirrar, porque o governo não deslancha, embora não tenha adversários, pois Lula da Silva continue preso e a oposição não represente qualquer ameaça. Ou seja, não há motivos para essa inércia no enfrentamento das graves questões nacionais.

Muitos eleitores de Bolsonaro já cansaram de esperar e começam a admitir que o governo possa se transformar num grande fracasso. São aqueles que, no segundo turno, votaram em Bolsonaro por exclusão, exclusivamente para se livrar do PT. É uma parcela formada por eleitores conscientes e formadores de opinião.

Dirigir um país problemático como o Brasil não é brincadeira. Muitos eleitores de Bolsonaro conheciam suas limitações, mas julgavam que ele fosse se apoiar nos militares. Achavam que, pela primeira vez, o Brasil teria um governo militar eleito democraticamente, algo verdadeiramente novo.


Quando o novo presidente montou a equipe, essa possibilidade ficou clara, em função do grande número de militares espalhados pelo dois principais escalões do governo. O que ninguém esperava é que Bolsonaro fosse desprezar o aconselhamento dos militares e preferisse seguir as sugestões de seus três filhos mais velhos, que obedecem à orientação do escritor Olavo de Carvalho, o pornográfico guru virginiano.

Os entrechoques entre a ala militar e a ala olavista eram inevitáveis. Primeiro, houve a campanha contra o general Hamilton Mourão, que só não deixou o governo porque foi eleito, é indemissível. Depois, os irmãos investiram contra o ministro Gustavo Bebianno, grande amigo e homem de confiança de Bolsonaro, e não pararam até ele ser injustamente demitido.
Com esse comportamento arrogante, pretensioso e errático, o governo Bolsonaro não poderá ir longe, tem o mesmo valor de uma nota de três dólares, com a foto de seu amigo Donald Trump (C.N.)
Em abril, o alvo passou a ser o general Santos Cruz e os ataques atingiram até o general Villa Bôas. A cúpula militar enfim protestou e Bolsonaro decidiu enquadrar Olavo de Carvalho e os filhos. O guru saiu de cena mesmo, mas o filho Carlos Bolsonaro, o Zero Dois, deu um jeito de enredar o general Santos Cruz, e Bolsonaro demitiu o velho amigo, sem haver motivo concreto.

Mais recentemente, o alvo passou a ser o general Augusto Heleno, e Bolsonaro teve de intervir mais uma vez, para acalmar o Zero Dois, que contava com apoio declarado do Zero Três, o deputado Eduardo Bolsonaro.

Agora, com a decisão de nomear o filho Zero Três para embaixador nos EUA, a situação clareou de vez e os eleitores mais lúcidos de Bolsonaro caíram na real. Embora reconheça não estar preparado para governar, como admitiu ontem em “live” com o “apóstolo” Valdemiro, o presidente não consulta os militares, ele apenas os usa, quando é de sua conveniência.

É triste constatar essa realidade, porque não existe estadista solitário. Todos se sustentam em seus estafes. Até mesmo os chefes mafiosos têm seus “consiglieri” (conselheiros). Mas Bolsonaro pensa (?) que não precisa disso e prefere ouvir o guru virginiano e as peruadas de Zero Um, Zero Dois e Zero Três, que nada representam juntos ou separados, pois a soma dos três equivale a um Zero à Esquerda.
Carlos Newton

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