Esta onda verde parece ser uma boa notícia. Sugere uma pequena mudança de percurso num mundo entalado entre duas grandes potências, os EUA e a China, que desprezam as políticas ambientais. O desdém do atual presidente americano, Donald Trump, em relação aos esforços para conter o aquecimento global vem reforçando e multiplicando os inimigos do meio ambiente no planeta. Entre eles, está o governo de Jair Bolsonaro.
O triunfo dos Verdes no seio da União Europeia é, ao menos em parte, consequência direta do despertar da juventude para a causa ambiental. Nos últimos meses, a principal novidade política, na Europa e no mundo, foram as grandes manifestações de estudantes, em milhares de cidades, um pouco por todo o planeta, em defesa do clima e da preservação da vida e da sua diversidade, num movimento não partidário criado por uma jovem sueca, Greta Thunberg, de apenas 16 anos.
É, infelizmente, um despertar tardio. Acresce que as eleições europeias confirmaram também a afirmação de uma direita e extrema direita contrárias a todas as políticas de proteção do ambiente. Receio, pois, que a cegueira prevaleça sobre o bom senso. A Terra é o Titanic prestes a colidir com um iceberg. Já se avista a superfície do mesmo — uma imensa montanha de lixo, produzida por todos nós; contudo, uma boa parte dos passageiros ainda insiste na ideia de que o navio aguenta muito bem o embate. Há até quem assegure, sorrindo, que o iceberg não existe. Pouco importa as multidões que gritam no convés. O barco continua a sua marcha suicida.
Os alheados que dançam nos salões enquanto o navio avança para o desastre são, talvez, mais felizes do que aqueles que gritam e protestam, em pânico, tentando alertar quem está no comando. No fim, naufragaremos juntos. Uns morrerão a dançar e a beber. Os outros, os lúcidos, talvez até morram antes, de susto, de frustração e de furor.
Em todo o caso, prefiro estar entre estes últimos. Quero acreditar que esta pequena mudança de rota na Europa seja o início de um movimento de viragem muito mais amplo, mais sólido, mais sustentado, que logo repercutirá noutras latitudes, em especial naqueles países, como os Estados Unidos e a China, com maiores responsabilidades na destruição do planeta. Não nos resta muito tempo. Entretanto, eu vou para o convés: gritar!
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