Mas ninguém espera que um presidente aparentemente normal reaja como fez o capitão Bolsonaro em sua conta no Twitter.
Sim, porque uma coisa é o erotismo, representação explícita da sexualidade. Outra muita diferente é a pornografia.
O vídeo mostrou um homem dançando sobre um ponto de táxi em São Paulo após introduzir um dos dedos no próprio ânus.
Em seguida, aparece outro que abre as calças e urina na cabeça do homem que dançava. Por que Bolsonaro compartilhou o vídeo?
Para “expor a verdade” à população, segundo ele. “É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro”, escreveu.
Havia um bloco perto da cena. Mas a cena nada tinha a ver com o enredo do bloco nem com o comportamento dos seus integrantes.
Bolsonaro pediu aos quase 3 milhões e meio de seguidores que tirassem suas próprias conclusões e que debatessem a respeito.
Recebeu como resposta mais de 24 mil comentários, a maioria criticando-o pelo que havia feito.
Em um deles, o jornalista Fabio Pannunzio, apresentador do jornal da Rede Bandeirantes de Televisão, escreveu:
“Bolsonaro, a minha neta de seis anos tomou conhecimento dessa cena no seu Twitter. Ela e outros milhões de crianças cujos pais o seguem. Quero ver como o presidente da República vai explicar o que elas viram. Você precisa de tratamento médico com urgência”.
“Proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo” é crime, segundo a lei 1.079 da Constituição Federal.
Compartilhar vídeo pornográfico é ou não incompatível “com a dignidade, a honra e o decoro do cargo” de presidente da República?
Compartilhar vídeo pornográfico para em seguida deplorar seu conteúdo torna o vídeo menos pornográfico?
Presidente da República é o servidor número 1 do país. Todos os olhos se voltam para ele, para o que faz ou deixa de fazer.
Todos os ouvidos estão atentos para escutar o que ele diz. O comportamento de um presidente é escrutinado a cada momento.
Tudo bem que Bolsonaro não contasse com sua eleição até levar a facada em Juiz de Fora que quase lhe custou a vida. Mas, e daí?
Daí que parece nada ter aprendido desde que se elegeu presidente, nem mesmo a proceder com a honra que o cargo exige.
O país que deu a Bolsonaro 58 milhões de votos em outubro último está sendo apresentado aos poucos ao presidente que elegeu.
Não importa se está gostando ou não do que vê. Terá que conviver com ele pelos próximos 4 anos. Ou exatos 3 anos, 9 meses e 25 dias.
Ricardo Noblat:
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