terça-feira, 26 de março de 2019

Nós não vamos no atirar do penhasco

De tanto ver, ouvir e ler notícias ruins, o brasileiro está se tornando um povo triste. E o País ficando de baixo astral. Difícil é o dia que não temos alguma novidade para lamentar, sobretudo e principalmente, na área política. Acontece sempre de uma autoridade dar uma declaração desastrosa, um político postar insanidades nas redes sociais, um doutor trocar farpas com o outro. Assistimos ao circo dos horrores, enquanto o rei fica nu. Projetos de lei apresentam reformas que querem tirar o pão de nossas bocas e colocar armas em nossas mãos. Sem falar nos alucinados que nos traumatizam com casos de violência e nós não sabemos o que será do amanhã.

É um caldo trágico.

O agora país da perplexidade e da desilusão enfrenta situações de perda ou de frustrações; o resultado são essas angústia, melancolia, e o coração apertado. Estamos a caminho de uma depressão coletiva, pois não há como fugir do estado de tristeza cotidiano. Estamos viciados em fatos ruins: mal o dia começa e já corremos para o WhatsApp ou para os sites de notícias, onde degustamos o pão amargo de cada dia. O desejo de termos algo ruim para lamentar está virando uma obsessão.


Pode parecer bizarro, mas é como se estivéssemos alimentando um ciclo vicioso e doloroso, buscando a notícia ruim. Buscando uma dor, ainda que inconscientemente, para expressar o nosso descontentamento com a vida brasileira. É um sentimento maluco, estamos todos assim, flutuamos entre a expectativa de que uma coisa ruim pode acontecer e a infelicidade de constatar que tudo está realmente uma chatice. Mas, vamos devagar.

Estamos solidários na depressão do outro e nos sentimos até culpado quando há uma certa felicidade no ar. Mas, eu não curto essa parada de que estamos prestes a nos jogar do penhasco. Comigo, não, violão! Devemos ser, sim, solidários na alegria e enxergarmos quanta coisa boa estamos deixando de construir. Tristeza pode ser um sentimento saudável e natural, mas ela é legal quando força uma reflexão; quando faz a gente a pensar sobre os fatos ruins e começamos a buscar soluções. Só vale a pena se começarmos a refletir de que forma podemos reverter esse sentimento inútil que paira entre nós, brasileiros. Estamos parecendo, sei lá, peixinhos fora d’água.

Se nós erramos (generalizando aqui porque o momento não é mais ficar catando os feijões, mas de dar a volta por cima), como ia dizendo, se erramos, não temos compromisso com erro. Muito menos com a dor. Não suporto dor.

Renascer exige esforço. É mais fácil xingar do que lutar, porém é preciso tirar a bunda da cadeira. Sentar e lamentar é menos cansativo do que se levantar e ir à luta. Está parecendo papo de psicanalizado, mas temos que fazer algo para mudar. Felicidade – pessoal ou coletiva – é algo que se constrói. Aliás, os entendidos dizem que ela só é plena quando brigamos por ela, quando trabalhamos nesse sentido. Indo por esse caminho, em vez de ficar alimentando a desilusão do outro, acho que o certo é a gente incentivar as outras pessoas a serem mais justas e corajosas nesse momento de desesperança. Para começar, o primeiro passo é abrir a boca e dizer, a quem de direito, em alto e bom som, que merecemos algo melhor. E que não aceitamos o que não merecemos. É um bom começo.

Cícero Belmar

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