Emerge uma nova direita que ganha espaços não só na Europa, mas nos EUA e na América Latina; uma direita extrema que, até agora, descartou os rostos mais violentos e que se incorpora a fenômenos como o autoritarismo, o nacionalismo, o conservadorismo, o populismo, a xenofobia, a islamofobia, o desprezo pelo pluralismo etc. Não se apresenta da mesma forma em todos os lugares, mas mescla em doses distintas cada uma dessas características. É o que o historiador italiano radicado nos EUA Enzo Traverso denominou “as novas caras da direita”.
A maioria dessas formações, que perderam pelo caminho o qualificativo de partidos (Alternativa pela Alemanha, Vox, Amanhecer Dourado...), não se reivindica do fascismo clássico, mas é impossível entendê-las sem recorrer à lembrança do que essa doutrina significou. São fenômenos ainda transitórios na maioria dos casos, em transformação, que ainda não cristalizaram no que definitivamente chegarão a ser. Ainda não aconteceu com eles (e talvez nunca aconteça) o que ocorreu na Alemanha nos primeiros anos da década de 1930, quando os nazistas deixaram sua condição de movimento minoritário constituído por uns tantos excêntricos para tornarem-se os interlocutores das grandes empresas e grupos, e das elites industriais e financeiras. Quem conta perfeitamente é o escritor francês Éric Vuillard em A ordem do dia (sem edição no Brasil): em fevereiro de 1933 acontece uma reunião no Reichstag da qual participam os 24 industriais alemães mais importantes (por exemplo, os donos da Opel, Krupp, Siemens, IG Farben, Telefunken, Agfa, Varta...), na qual, na presença de Hitler e Goering, doaram enormes montantes ao novo regime (“urge acabar com a instabilidade do regime; a atividade econômica requer calma e firmeza... Era uma ocasião única para sair do estancamento em que se encontravam, mas para fazer campanha era preciso dinheiro”).
Quando as sociedades são submetidas a choques tão fortes quanto a Grande Recessão, essas novas direitas constituem em muitos casos uma resposta extrema à ausência de um horizonte de expectativas. Às vezes gera-se um deslocamento da questão social para as questões identitárias; em outras se põe em primeiro plano o fato de que a alternância de Governos de sinal diferente não produz modificações substanciais nas políticas públicas, mas apenas mudanças de pessoal.
Certas vezes parece que o que ocorre a nossa volta estava escrito nos jornais de muitos anos e é um pesadelo que estamos tendo.
Joaquín Esteranía
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