sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Brasileiros vão às compras e ignoram Lula

A descoberta de outros casos de corrupção e lavagem de dinheiro deixa sombrios os dias de Lula. Para quem achava que passaria poucos dias na cela, que renasceria das cinzas como a fênix para um novo voo político como candidato a presidente da república, o tempo passou e só Carolina não viu, como diria Chico Buarque, seu mais ardoroso defensor. Da euforia da pré-campanha, quando se apresentava como candidato, mesmo com a certeza de que a Justiça iria impugnar seu registro, Lula agora se prepara para uma prolongada permanência atrás das grades, agora com o tempo desfavorável a um desfecho feliz.


Já não se vê por aqui os movimentos de “Lula Livre” e a campanha do “Fora Temer”, patrocinada pelos petistas. Parecem clichês do passado que vão se desmilinguido enquanto o país caminha para outro momento político. A brasileirada está mais preocupada em encher os carrinhos de compras nas lojas de departamento no frisson do Black Friday do que sair pelas ruas friorentas da Big Apple acenando a bandeira de PT injustiçado.

No meio dos brasileiros – até entre os petistas radicais – já não se ouve tanto a defesa doentia de Lula. Parece que os protestos foram engolidos pelos novos tempos, depois do último depoimento do ex-presidente à juíza Gabriela Hardt que o enquadrou de forma severa ao perceber a intenção dele em tumultuar o interrogatório quando insinuou que o juiz Sérgio Moro tinha relações próximas com o doleiro Youssef. Se Lula imaginava que iria impor suas bravatas, o que se viu foi um cara abatido e acuado diante da juíza determinada a não deixá-lo fazer proselitismo político.

A sensação que tenho por onde passo – Miami e Nova Iorque – é de que existe um conformismo entre os seguidores de Lula de que ele ficará mais tempo na cadeia do que se imaginava. E que depois da campanha feita no exterior com dinheiro público por embaixadores simpatizantes do PT e cineastas com dinheiro da Ancine, é fria, hoje, a reação dos brasileiros em relação a causa petista.

A imprensa, então, quase não fala de política brasileira. O próprio Bolsonaro já está frio, gelado, no noticiário. Trump, com os seus arroubos, não deixa espaço pra ninguém na mídia. Quem vem ocupando as manchetes por aqui é outro brasileiro, o ex-presidente da Nissan, o Carlos Ghosn, preso no Japão sob acusação de sonegação fiscal.

O executivo é figura presente nas primeiras páginas dos principais jornais como Financial Times, NYT e Washington Post. Há controvérsias quanto a sua prisão. Fala-se, inclusive, que os japoneses teriam armado uma arapuca contra Ghosn, também naturalizado libanês, para retirá-lo da presidência do conselho com inveja do sucesso dele à frente da própria empresa deles. É o que pensa pelo menos os dirigentes da Renault, empresa francesa, parceira da Nissan, que condena a prisão de Ghosn.

Assim como a imprensa, os organismos internacionais também baixaram a bola na campanha do “Lula Livre”. Alguns dirigentes tentaram, em vão, tumultuar o processo eleitoral, mas recuaram diante da decisão soberana do TSE de manter a inelegibilidade de Lula nas eleições desse ano. Há um certo temor entre os minguados petistas sobreviventes no exterior de que o ex-presidente será novamente condenado. E se isso de fato ocorrer, dizem eles, Lula dificilmente sairá da cadeia, já que seu partido, derrotado nas urnas, está no ostracismo.

Outros militantes acreditam que Lula, caso condenado novamente, deverá ser transferido para um presídio comum para cumprir as penas. Mantê-lo sob custódia na Polícia Federal requer uma logística que a própria PF não está acostumada, pois o local não é para abrigar preso já condenado. Além disso, Lula custa muito caro ao estado pelo aparato à sua disposição por ser um preso que exige atenção especial.

Enfim, o velho ditado do “rei posto, rei morto” é o que se ouve dos brasileiros, que nesse momento se acotovelam com os japoneses nos corredores lotados das lojas de grife, quando falam sobre a situação atual de Lula.

O ostracismo do Lula assemelha-se a cena de um político apagado como se alguém tivesse puxado a tomada, deixando-o na escuridão.

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