Qualquer brasileiro, habituado à rotina do absurdo das páginas policiais sempre recheadas, após tomar conhecimento desta notícia, seguramente indagaria o motivo de sua excepcionalidade. Sim, o que haveria de extraordinário no homicídio de um chefe de quadrilha?
Segue a resposta, registrada pela séria revista britânica "The Economist": em todo o ano de 2015 houve, no Japão inteiro, um único homicídio produzido por arma de fogo! Kawaji Toshiyuki foi, ao longo de todo um ano, o único ser humano abatido a tiro no Japão. Em um humilhante contraste, no Brasil há uma média de 120 homicídios cometidos com armas de fogo por dia - sim, por dia!
O Japão é um país paupérrimo, desprovido de recursos minerais os mais básicos. Sequer de espaço para grandes investimentos em agricultura ou pecuária dispõe. Para piorar, seu solo é sujeito a constantes terremotos e salpicado por vulcões.
O Brasil é um país riquíssimo. Chega a ser difícil imaginar uma riqueza que não tenhamos em abundância. Do petróleo ao ouro, do ferro ao nióbio, a natureza nos foi pródiga. Temos espaço a fartar para plantar e criar. Nosso solo foi poupado de terremotos e vulcões.
Lá, um povo rico vive civilizadamente. Aqui, um povo pobre apenas sobrevive. Diante deste humilhante contraste, apontamos o dedo para o Zé-Povinho ou para os políticos. Acabamos nos esquecendo, porém, de que quando apontamos um dedo para alguém, direcionamos três outros a nós mesmos.
Sim, somos nós os maiores culpados. Preferimos não ver a realidade dos entornos de nossas cidades, nas quais o Estado há muito não entra. Somos pessoas de bem, mas não do bem; dizemos não ao mal, porém não aos maus - veja nossos maiores corruptos sendo festejados nos mais requintados ambientes e reflita sobre o quanto somos omissos enquanto elite dirigente.
Mesquinhos, sequer de continuidade administrativa conseguimos falar. Medíocres, vivemos há séculos do extrativismo. E, covardes, ainda cobramos de um povo abandonado o preço de nossa cegueira assassina.
Pedro Valls Feu Rosa
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