quarta-feira, 3 de maio de 2017

A arte de enganar os eleitores

Tanto na campanha de Trump, nos Estados Unidos, quanto agora com Marie Le Pen, na França, uma promessa vai arrebanhando votos daqueles que, sem a correta informação, acreditam piamente no que ouvem. Também pudera: são eleitores que estão sofrendo com as mudanças tecnológicas e não percebem que a marcha do processo de intensificação de lucros não volta atrás. Refiro-me aos operários de setores antes muito prestigiados – como a indústria automobilística e seus componentes, aço e alumínio, entre outros.

Morei nos Estados Unidos no auge do poderio das montadoras, quando floresciam as condições salariais e o progresso parecia eterno. Hoje, quem vai às cidades do cinturão do aço, como Pittsburgh, Detroit e Cleveland, não vai acreditar que meus olhos viram o que escrevo. Tudo parecia uma festa. Agora, o desemprego e o desalento atingem a maior parte da população dessas cidades. Eleitores fiéis do Partido Democrata caíram nos braços de Trump com suas promessas de retomada daquelas indústrias com o fechamento das fronteiras do país. Lutando para ser vitoriosa no confronto do segundo turno, Le Pen faz o mesmo na França.

Doce ilusão. Os operários votam nesses vendedores de ilusões para caírem depois na desilusão, quando souberem que o tal fechamento de fronteiras será feito à custa da robotização do processo produtivo – e, portanto, sem os almejados empregos – e não haverá recuperação da pujança de antigamente.

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Escrevo isso porque estou acompanhando também as pesquisas sobre quem poderá vir a ser o presidente eleito no Brasil em 2018.

Ouso afirmar que não se atinge o fim que se quer se mirarmos o efeito, e não a causa, e se não compreendermos com inteireza que, para além da escolha ideológica, há condições que não se podem criar apenas pela vontade e que se circunscrevem à ação dos homens. Temo, pois, que – se afastada a hipótese de inelegibilidade de Lula – muitos apostem em sua eleição com a ideia de que voltarão a gozar do período em que foi possível elevar a renda de parte da população e levar todo mundo a crer que o país chegara ao Primeiro Mundo. Lembra-se, leitor, do Cristo Redentor na capa da revista “The Economist” subindo como um foguete? Ou da frase “Este é o cara”, com que Obama referiu-se a Lula num encontro de líderes mundiais?

O preço dessas benesses todas está agora visível nas concessões às empreiteiras e aos bancos. Seria isso repetível nas condições em que o Brasil se meteu? Poderá o governo sair distribuindo incentivos às empresas via BNDES e permitindo verdadeira farra do boi às JBSs que existem por aí e são apadrinhadas com recursos públicos? Ou terá a fonte secado de vez? Quem assegura que o próximo Congresso não será ainda pior do que o atual e que, supondo vontade política do governo futuro, aprovará suas medidas sem as usuais contrapartidas?

Espero com essas palavras estar contribuindo, minimamente, para esclarecer o divórcio entre eleitos e eleitores, de modo que 2018 não seja um mero repeteco do desastre dos dias atuais.

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