quarta-feira, 12 de abril de 2017

O que o dinheiro compra

Sempre soube a diferença entre ricos e pobres. Até porque já tive e não tive dinheiro na vida. Sou privilegiada na velhice.

Também estudei tentando entender por que existem essas diferenças tão grandes entre pessoas em todos os países por onde viajei: nuns, mais, noutros, menos. Mas sempre vi que pessoas tinham mais e outras menos.

O dinheiro lhe dá o conforto de uma casa, cama e roupa limpa e passada. Dá a você boa comida, vestidos, sapatos e bolsas, carro e direito para passear (e comprar) em shoppings e ir a bons cinemas e teatros. Ou, simplesmente, lhe dá o direito de pagar suas contas no fim do mês e ainda comprar remédios. Pagar bons médicos, ser atendida na hora no dentista, sem fila para lhe tirar a paciência.

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Aprendo nestes dias, no Brasil, que o dinheiro também pode fazer uma grande diferença se você comete algum crime. Dá a você o direito de assistir a seus filhos menores, ficando presa na própria casa, ainda que (pelo menos na lei) sem usar os meios de comunicação da vida moderna. É o que está acontecendo com Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral, posta em prisão domiciliar porque tem filhos de 12 e 14 anos que não podem ficar sem a assistência dos pais porque pai e mãe foram presos.

O dinheiro acumulado por Adriana – qualquer que tenha sido sua origem – permitiu a ela contratar bons advogados, aqueles já muito conhecidos no país, depois que vieram à tona os caminhos e descaminhos da estreita ligação entre o Estado e as grandes empresas. Advogados pagos a peso de ouro para que escarafunchem códigos e velhos alfarrábios que lhes deem pistas sobre recursos e direitos daqueles que são pegos em práticas criminosas. Advogados acostumados a serem recebidos com pompa e circunstância pelos que mandam. Que podem se dar ao luxo até de dar uma “carteirada”, sem nenhuma hermenêutica.

Em outras palavras, dinheiro também – venha ele de onde vier: herança, trabalho em certos empregos a que só alguns têm acesso, práticas criminosas –, o dinheiro também faz diferença na hora de você ser jogado numa dessas prisões superlotadas, ou quando você, sendo mulher, mesmo assim é confinada com mais uns 30 presos homens (como aconteceu no Pará há algum tempo). Faz diferença porque permite a você conviver com seus filhos e viver no conforto de sua casa ou de seu apartamento.

Enquanto isso, as mulheres pobres – milhares delas –, muitas vezes presas porque serviam de “mula” para o tráfico, ou porque roubaram uma roupinha de bebê numa loja, ou uma chupeta na farmácia, essas outras mulheres, porque não têm como pagar um advogado, mesmo um recém-saído de uma faculdade de direito, essas mulheres pobres vão ficar presas sem ninguém para socorrê-las, muito menos a seus filhos, ainda que menores de 3 ou 5 anos, jogados num barraco de uma favela qualquer do imenso e maravilhoso Brasil.

Que, afinal, se classificou para a Copa do Mundo em Moscou.

Bacana ser campeão de futebol mesmo se continuar campeão de desigualdade. Uma coisa esconde a outra. Viva nós!

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