terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Estado de calamidade

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               I

Quebrou-se a banca de Tota,
Mulher de João Ventania.
Mesmo esticando a jornada,
Nem um terço ela vendia
Do que fornecia antes
Por falta de freguesia.

              II

Mestre João de Alvelino
Também fechou sua bodega.
Fez um ano que não via
Um caminhão de entrega.
Com o caderno do fiado,
Não aguentou a refrega.

               III

João Tranguelo se mandou,
Valdeci pediu clemência,
Zé Galego enlouqueceu
Na Feira da Providência;
Meu tio Zé da Cocada
Logo decretou falência.

               IV
Raminho de Seu Jobilino
Correu pra se aposentar
Depois que viu Michel Temer
Uma reforma enviar:
- Daqui que eu faça 100 anos
O mundo vai se acabar!

             V


Compadre Zé de Vigó
Anda meio jururu
Com o salário atrasado.
Na Serra do Mulungu,
Sugeriu que o prefeito
Pagasse o soldo em Pitu.

               VI

Mané Gato trabalhava
Fazendo a transposição,
Não recebe há mais de ano
E nem paga prestação,
Anda nu com uma colher
De pedreiro pela mão.

              VII

Chimba marcou um encontro
Com seu irmão Pão Com Ovo,
Bem no Beco de Luizim,
Perto do Bar de Zé de Novo,
Para fazer um levante
E subverter o povo.

               VIII

- Se a prefeitura não paga
E a crise está danada -
Disse Zezito Pustema,
Coçando a perna estragada -
Declaramos moratória,
Nós não vamos pagar nada!

              IX

Sete Couros sugeriu
Matar um capitalista,
Porque o filho de Gino
Não quis ser seu avalista -
Disse, brandindo uma ficha
Do Partido Comunista.

              X

E foi assim que morreu
O sonho de uma cidade:
Ordas de desesperados,
Com tanta infelicidade,
E o decreto do roubo
Se chama CALAMIDADE!

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