A noite em que escapei de pagar a cont do jantar com Eike
Em 30 de agosto de 2010, durante a entrevista de Eike Batista ao Roda Viva, a apresentadora Marília Gabriela quis saber onde o entrevistado guardava a montanha de dinheiro que há dois anos lhe vinha garantindo uma vaga no ranking da revista Forbes que agrupa os mais ricos do planeta. “Todos os meus recursos estão todos aplicados”, enfatizou o magnata que nunca tinha no bolso alguns trocados para o garçom ou para o flanelinha. “Você tem alguma coisa guardada?”, entrei na conversa. “Nãããooo”, enfatizou o entrevistado. “Meus recursos estão todos aplicados em meus projetos…”
Subitamente confuso, estacionou nas reticências, procurou em vão o fio da meada e soltou a frase sem nexo: “Por acaso, eu durmo bem”. Feita a ressalva amalucada, retomou o palavrório: “Mas esses meus projetos… quer dizer… projetos bem ‘engenheirados’ pagam todas as contas.” Aproveitei a pausa para dirimir a dúvida que me assaltara desde que conheci Eike Batista: “Quer dizer que se a gente sair para jantar eu pago a conta?”. Ele fugiu da resposta com um convite: “Vem comigo”. Ainda bem que não fui, disse-me no dia seguinte um amigo que sabe das coisas e conhecia muito bem o personagem: “Você não só pagaria a conta como, antes da sobremesa, compraria um lote de títulos de empresas que nunca existirão”.
Naqueles tempos delirantes, com o país anestesiado pelos farsantes no poder, Eike festejava fortunas imaginárias, Lula comemorava o colosso de petróleo que nunca saiu do fundo do Atlântico, Sérgio Cabral erradicara a violência nos morros e cuidava dos últimos retoques num Rio que lembrava Pasárgada com praia e teleférico de favela. Hoje está claro que o maior dos governantes desde Tomé de Souza, o megaempresário de matar de inveja banqueiro alemão de antigamente e o reinventor do Rio Maravilha eram apenas três vigaristas. Três corruptos sem vestígios de vergonha na cara. Três incapazes capazes de tudo.
Cabral e Eike já mofam na cadeia. O que a dupla tem a dizer vai apressar a remontagem da trinca que deve ser qualificada pelo que sempre foi: um repulsivo caso de polícia.
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