Era preciso um balanço geral. A Lava-Jato e outras operações policiais trataram até aqui de corrupção em obras da Petrobras e de Angra 3. O único político do PMDB preso era Eduardo Cunha, também por seu papel nacional. Existe uma operação, a Saqueador, que poderia puxar um dos fios da meada. O empresário Fernando Cavendish já oferece um anel de R$ 800 mil, mas ainda não esposou a delação premiada. Com a prisão de Sérgio Cabral talvez se possa ter uma visão aproximada do peso que a corrupção teve nos últimos anos e também da fração de recursos que possam ser restituídos ao Rio.
Pesquisas divulgadas esta semana mostram que a Assembleia do Rio custa mais caro que a de São Paulo e que o Judiciário custa uma vez e meia o do estado de Minas. Minas tem 853 municípios, o Rio, 92. É preciso uma revisão geral do custo da máquina. Ela passa pelos salários, mas envolve outras dimensões, sobretudo o sistema estadual de aposentadoria. Se as instituições mostrassem o quanto se perdeu com a corrupção e o governo demonstrasse que ajustou os custos da máquina à realidade de um estado quebrado, talvez pudesse surgir daí uma centelha de legitimidade. Esta centelha é a única esperança de conduzir um processo pacífico. É evidente que não existe projeto de reconstrução que não desperte protestos, mas num clima mais produtivo.
Se o estado, em todos os níveis, se ajusta à sua realidade falimentar, o diálogo com os funcionários torna-se menos áspero e a própria confiança da sociedade talvez reacenda. Esta semana li uma longa entrevista de Henry Kissinger porque queria saber de sua visão sobre o futuro da política externa americana. No meio do caminho, deparei-me com uma frase em que ele diz que todas as sociedades humanas, num determinado momento de sua história, decaem. É uma arrogância supor que os Estados Unidos escapariam desse destino. Mas observa em seguida: a perda de confiança em si próprio é um sintoma que pode precipitar a decadência.
Embora tenha feito as escolhas políticas, não foi a sociedade, mas os dirigentes que jogaram o Rio neste buraco. De um lado, a exuberância do petróleo, de outro, o estímulo federal para que o estado se endividasse. E, no meio, a corrupção. Não há razão para que ela perca a confiança em si própria. O que faliu foi uma visão política, o que se vive é uma ressaca do petróleo, a descoberta de uma caríssima e incapaz máquina de governo. O corte decisivo nos gastos públicos, a punição dos corruptos, a canalização dos recursos salvos do desastre para a saúde e a educação podem ser um roteiro geral. Sem falar na urgência de manter programas como o aluguel social e restaurante popular.
O estado vive uma situação tão grave que aquela frase de Kennedy, tantas vezes citada, por força da realidade, aplica-se aqui: não me pergunte o que Rio pode fazer por você, mas sim o que você pode fazer pelo Rio. Desde que haja confiança de que um outro rumo está sendo trilhado. Não vejo outras saídas, exceto a energia e a criatividade das pessoas, sobretudo quando as coisas estão desmoronando. Uma época chega ao fim e os que estão por cima são incapazes de iniciar uma nova.
É apenas uma opinião na esperança de que a intensa troca de ideias possa nos ajudar a sair dessa maré. Estamos sós, o cenário é desolador, mas é preciso prosseguir. Mesmo sem saber precisamente para onde e por que, é preciso prosseguir.
Fernando Gabeira
Se o estado, em todos os níveis, se ajusta à sua realidade falimentar, o diálogo com os funcionários torna-se menos áspero e a própria confiança da sociedade talvez reacenda. Esta semana li uma longa entrevista de Henry Kissinger porque queria saber de sua visão sobre o futuro da política externa americana. No meio do caminho, deparei-me com uma frase em que ele diz que todas as sociedades humanas, num determinado momento de sua história, decaem. É uma arrogância supor que os Estados Unidos escapariam desse destino. Mas observa em seguida: a perda de confiança em si próprio é um sintoma que pode precipitar a decadência.
Embora tenha feito as escolhas políticas, não foi a sociedade, mas os dirigentes que jogaram o Rio neste buraco. De um lado, a exuberância do petróleo, de outro, o estímulo federal para que o estado se endividasse. E, no meio, a corrupção. Não há razão para que ela perca a confiança em si própria. O que faliu foi uma visão política, o que se vive é uma ressaca do petróleo, a descoberta de uma caríssima e incapaz máquina de governo. O corte decisivo nos gastos públicos, a punição dos corruptos, a canalização dos recursos salvos do desastre para a saúde e a educação podem ser um roteiro geral. Sem falar na urgência de manter programas como o aluguel social e restaurante popular.
O estado vive uma situação tão grave que aquela frase de Kennedy, tantas vezes citada, por força da realidade, aplica-se aqui: não me pergunte o que Rio pode fazer por você, mas sim o que você pode fazer pelo Rio. Desde que haja confiança de que um outro rumo está sendo trilhado. Não vejo outras saídas, exceto a energia e a criatividade das pessoas, sobretudo quando as coisas estão desmoronando. Uma época chega ao fim e os que estão por cima são incapazes de iniciar uma nova.
É apenas uma opinião na esperança de que a intensa troca de ideias possa nos ajudar a sair dessa maré. Estamos sós, o cenário é desolador, mas é preciso prosseguir. Mesmo sem saber precisamente para onde e por que, é preciso prosseguir.
Fernando Gabeira
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