Em 1994, com Itamar Franco presidente e Fernando Henrique ministro da Fazenda, no meio de uma crise desoladora, surgiu uma “vontade firme” de consertar o país. Sobrevivia, naquela época, uma máquina do Estado enxuta e dedicada à pátria. A vergonha era levada a sério.
O “sociólogo” montou uma equipe de meia dúzia de economistas de ponta, sem visar a nichos ou interesses pequenos, como se faz agora. As coisas começaram em seguida a funcionar e gerar resultados práticos. A inflação sumiu, os salários aumentaram, o progresso veio para empurrar a nação.
Se FHC tivesse acatado os caprichos de cada setor, não teria conseguido chegar a uma fórmula de sucesso difuso. No lugar do Real teria um Frankenstein de vida breve, como acontece frequentemente.
A equipe dele trabalhou em silêncio e sigilo, surda aos cantos das sereias.
O Real foi o último, talvez o único, projeto econômico que não se importou com a impopularidade imediata. Colocou a sua frente a estruturação da economia no longo prazo.
James Gallagher, |
Eu era deputado e crítico de Fernando Henrique no início de 1994. Não compreendia o atraso com as medidas que eram reclamadas. Num jantar no apartamento de José Serra, em Brasília, não me convenceu o discurso dele para um grupo de deputados que apoiava o governo Itamar. Eu desabafei em relação aos juros altos que bloqueavam os investimentos no país, à falta de segurança jurídica, ao caos tributário, à miséria do povo. Pediu-me para que o visitasse em seu gabinete no dia seguinte. De lá sai quase convencido de que medidas viriam para aliviar os males terríveis que vivíamos. O resto está na história oficial do Plano Real, que transformou uma republiqueta num Estado respeitado. FHC pode ter todos os defeitos, mas acertou em cheio com o Real.
O plano permaneceria até hoje, sólido e pujante, se a “vontade” que movimentou os primeiros momentos se tivesse renovado, e não se renovou. A inconstância, as alternâncias, os pecados levaram ao que é hoje: uma República em frangalhos, abatida pela crise, pelos desmandos de suas lideranças, dos Parlamentos preocupados em ampliar cinicamente seus privilégios, sem noção da sustentabilidade, do suor da nação e dos sacrifícios que se avolumam sobre o país.
Claro é que o que vai para um Fundo Partidário não se destinará à saúde. É aí nas filas que as pessoas morrem. Algum dos luminares se preocupa com isso?
O ápice dos benefícios proporcionados pelo Real foi desperdiçado na engorda de um Estado burocrático que impede a possibilidade de desenvolvimento sustentável. Há quem defenda que um emprego inútil no Estado acaba com três ou quatro na economia de mercado. Um custo terrível.
Eu, de 1994 até 2002 como deputado federal do mesmo partido do presidente, votado em Betim, cidade da Refinaria Gabriel Passos, uma das maiores do país, em oito anos de governo, não me avistei nem mesmo com um porteiro da Petrobras, que ficava ao lado do meu escritório político. Não se cogitava naquela época a interferência do Legislativo na vida de empresas estatais. A exploração nos domínios públicos se consagrou com Lula, constrangendo interesses difusos e proporcionando rapinas, agora reveladas pelas inúmeras delações premiadas. Nada mais se decidiu objetivamente depois de 2003, daí a insurgência de um “Estado-quadrilha”.
Acabou também (felizmente) a raça de políticos que “rouba, mas faz”, e surgiu (infelizmente) aquela mais despudorada que “rouba, não faz e não deixa fazer”. Explicou um grande empreiteiro, num lampejo de autocrítica, que “ele (empreiteiro) é aquele que, para ganhar dinheiro, faz qualquer coisa, até obras”. Enfim Odebrecht e Andrade Gutierrez, em suas delações, confirmaram o que parecia absurdo e serviu à demolição do Estado.
O patrimonialismo delirante expandiu também para 1,5 milhão as nomeações políticas em todo o país. Os ditos cabides de empregos, pagos pelos contribuintes. Não parou aí, os concursos públicos foram violentados para dar estabilidade aos apaniguados, mesmo sem predicados.
Quem por necessidade ou amor à pátria adentra um ministério, e até o Planalto, encontra um ambiente desvirtuado e sem motivação alguma. Parece aí que o mundo foi criado para servir de contorno aos ministérios e ao Congresso Nacional. Perdeu-se a noção de “servir”.
A distância que separa os Poderes federais, Executivo e Legislativo, da realidade do país é abismal. O Brasil precisa reencontrar a “vontade”, a “honestidade” e a “competência”, até lá não há como se pensar em recuperação verdadeira.
O plano permaneceria até hoje, sólido e pujante, se a “vontade” que movimentou os primeiros momentos se tivesse renovado, e não se renovou. A inconstância, as alternâncias, os pecados levaram ao que é hoje: uma República em frangalhos, abatida pela crise, pelos desmandos de suas lideranças, dos Parlamentos preocupados em ampliar cinicamente seus privilégios, sem noção da sustentabilidade, do suor da nação e dos sacrifícios que se avolumam sobre o país.
Claro é que o que vai para um Fundo Partidário não se destinará à saúde. É aí nas filas que as pessoas morrem. Algum dos luminares se preocupa com isso?
O ápice dos benefícios proporcionados pelo Real foi desperdiçado na engorda de um Estado burocrático que impede a possibilidade de desenvolvimento sustentável. Há quem defenda que um emprego inútil no Estado acaba com três ou quatro na economia de mercado. Um custo terrível.
Eu, de 1994 até 2002 como deputado federal do mesmo partido do presidente, votado em Betim, cidade da Refinaria Gabriel Passos, uma das maiores do país, em oito anos de governo, não me avistei nem mesmo com um porteiro da Petrobras, que ficava ao lado do meu escritório político. Não se cogitava naquela época a interferência do Legislativo na vida de empresas estatais. A exploração nos domínios públicos se consagrou com Lula, constrangendo interesses difusos e proporcionando rapinas, agora reveladas pelas inúmeras delações premiadas. Nada mais se decidiu objetivamente depois de 2003, daí a insurgência de um “Estado-quadrilha”.
Acabou também (felizmente) a raça de políticos que “rouba, mas faz”, e surgiu (infelizmente) aquela mais despudorada que “rouba, não faz e não deixa fazer”. Explicou um grande empreiteiro, num lampejo de autocrítica, que “ele (empreiteiro) é aquele que, para ganhar dinheiro, faz qualquer coisa, até obras”. Enfim Odebrecht e Andrade Gutierrez, em suas delações, confirmaram o que parecia absurdo e serviu à demolição do Estado.
O patrimonialismo delirante expandiu também para 1,5 milhão as nomeações políticas em todo o país. Os ditos cabides de empregos, pagos pelos contribuintes. Não parou aí, os concursos públicos foram violentados para dar estabilidade aos apaniguados, mesmo sem predicados.
Quem por necessidade ou amor à pátria adentra um ministério, e até o Planalto, encontra um ambiente desvirtuado e sem motivação alguma. Parece aí que o mundo foi criado para servir de contorno aos ministérios e ao Congresso Nacional. Perdeu-se a noção de “servir”.
A distância que separa os Poderes federais, Executivo e Legislativo, da realidade do país é abismal. O Brasil precisa reencontrar a “vontade”, a “honestidade” e a “competência”, até lá não há como se pensar em recuperação verdadeira.
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