Tanto a novela global quanto o trágico falecimento de Domingos colocaram em evidência o outrora caudaloso rio da integração nacional, ora em rápido processo de degradação em face das prolongadas estiagens e dos crescentes e intensivos usos de suas águas, praticamente superiores à sua vazão nesses sucessivos anos de secas, que estão se perpetuando.
Para que se tenha uma ideia dessa enorme escassez, o volume útil dos reservatórios de Três Marias, Itaparica e Sobradinho, em 30 de outubro, estava a menos de 11% do volume útil total. Já a vazão afluente média do reservatório de Sobradinho, em outubro deste ano, segundo a ANA, era de apenas 497 m³/s. Em consequência, a pedido da Companhia Hidrelétrica do São Francisco, o Ibama recentemente autorizou a redução da vazão de Sobradinho de 800m³/s para 700m³/s, de 10 de novembro até 31 de janeiro de 2017. Observa-se que, mesmo com essa baixa vazão, o déficit hídrico nesse importante reservatório será de aproximadamente 200m³/s.
As continuadas reduções da vazão de Sobradinho trazem sérias consequências para o Baixo São Francisco, notadamente para Sergipe, já que a vazão de Xingó também será reduzida para 700m³/s, o que provocará graves problemas no abastecimento de pequenas comunidades, além da degradação que acarretará ao meio ambiente. Convém ressaltar que o Rio São Francisco é o principal manancial hídrico desse estado. Portanto, seu acelerado raquitismo ensejará o aparecimento de volumes mortos. Isso será catastrófico para o suprimento de 70% da região metropolitana de Aracaju e 52% da população sergipana.
Em suma, essas informações, especialmente o crescimento geométrico da demanda de água para irrigação, com vazão atual de 518m³/s e projetada para atingir 786m³/s em 2025, indicam a ingente necessidade de se estabelecer uma competente governança hídrica sobre as escassas águas do Rio São Francisco. É dizer: ou as gerenciamos com eficiência, eficácia e efetividade ou elas nos faltarão em futuro próximo. Seu uso indiscriminado e sem parcimônia pode levar a desastres ecológicos como os que foram causados ao Rio Colorado, nos Estados Unidos e México, e ao Mar de Aral, na Ásia Central, certamente por falta de competente e rigorosa governança hídrica.
Albano Franco
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