Isso já ocorre em virtualmente qualquer país do mundo e também era o entendimento do Supremo até 2009. Como bem lembrou o ministro Barroso, nossa Constituição exige apenas flagrante ou decisão judicial fundamentada para a prisão. Proíbe que alguém seja considerado culpado antes do esgotamento dos recursos, mas não proíbe que inicie o cumprimento de sua pena.
E as pessoas presas muito antes da condenação em segunda instância? Representam 40% dos presos. Muitas vezes elas sequer foram sentenciadas na primeira instância. Ou ainda nem foram denunciadas pelo Ministério Público. É muito mais complicado manter presa uma pessoa nessa situação. Mas foi a decisão do Supremo sobre os 2,1% em fevereiro que causou a maior celeuma entre grupos que pretendem lutar por um direito penal melhor.
Em sua grande maioria financiados de forma privada, eles acudiram ao tribunal como nunca fizeram antes quando estavam em jogo questões criminais de impacto nacional. O Supremo acabou tendo que repetir o julgamento de fevereiro. Qual o perfil desses dois tipos de pessoas? Os 2,1% geralmente têm advogados bons, que abusam de todos os recursos disponíveis para atrasar o cumprimento da pena e tentar a prescrição.
Os 40% geralmente são pobres representados pela Defensoria. São esquecidos na prisão mesmo antes de uma sentença. Todos torcemos para que, na próxima vez em que os 40% tiverem seu dia no Supremo, esses grupos privados reservem a eles o mesmo tratamento privilegiado dos 2,1%.
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