O ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha teve destino semelhante ao da ex-presidente Dilma. Ambos ainda estão sob a mira de investigações. O ex-todo-poderoso Cunha responde a dez ou mais processos e já se tornou réu em dois deles. Dilma foi impedida, mas, por ora, se livrou da pena de inabilitação para função pública. Cunha acabou no sereno e terá graves problemas pela frente. Haja advogado para defendê-lo! Dilma ainda terá que se explicar muito. Além de presidente do Conselho da Petrobras, foi ministra de Minas e Energia. A compra da refinaria de Pasadena é um de seus pesadelos.
E a situação de Michel Temer? À frente dos destinos deste sofrido e controvertido país, no qual minha geração tem sido mais vítima do que algoz (não estou fugindo da parcela de culpa que nos cabe), e tendo em vista o imoral “jeitinho brasileiro”, nada indica que, daqui para a frente, contará com céu de brigadeiro. Muito ao contrário.
Antes integrante da base política do governo Dilma Rousseff, e perfeitamente ciente, como seu vice-presidente duas vezes, do que vinha sendo feito contra o país pelo governo da desastrada e despreparada presidente, Temer só tem uma saída: convencer-se de que possui em mãos uma chance única e histórica, que exige dele não só trabalho e coragem, mas, sobretudo, superação no exercício do cargo que, a partir de 2019, terá que passar ao candidato eleito pelas urnas.
As manifestações de “Fora, Temer”, ocorridas a mãos-cheias, só confirmam o porte do risco de ser, hoje, presidente de um país conflagrado e, o que é pior, empossado depois de um processo traumático como é o impeachment, que se tornou mais traumático por ter sido conduzido por um deputado moralmente destruído e finalmente cassado. Minimizá-las, como fizeram ele próprio e alguns de seus auxiliares diretos, não é apenas inegável soberba, mas burrice mesmo, inadmissível sob todo aspecto. Afinal, por onde anda sua experiência?
A sensação de alívio consequente do afastamento de uma presidente que não mais reunia condições para governar, que se viu em muitos setores no país, até mesmo dentro do PT, por si só, vale pouco. E vale menos ainda, por outro lado, a quase certeza de que, nas mãos do presidente hoje efetivado, o país corre muito menos risco do que correria se o impeachment não tivesse sido aprovado no Senado.
Temer tem que provar, por atos, que a desmoralizada esquerda populista que, nesses últimos 13 anos, quis tomar conta do Brasil, e sempre inebriada pela tentação totalitária, apesar de um ou outro mérito que possa ter tido, precisa ficar para trás e rapidamente dar lugar a uma nação efetivamente democrática e socialmente justa.
Seria oportuno que Michel Temer afixasse, na porta do gabinete no Palácio da Alvorada, uma placa com a seguinte frase, dita pelo então candidato a presidente Eduardo Campos: “A velha política vai morrer, e quem não mudar vai morrer junto com ela”. Alguma dúvida?
Se eu tenho esperança em nosso país?
Cito o personagem Santiago, de Ernest Hemingway (“O Velho e o Mar”), lembrado por Roberto DaMatta, em artigo (“O velho e a política”) no jornal “O Globo”: “É uma estupidez não ter esperança, pensou. Além disso, acho que é um pecado perder a esperança”.
Se isso não nos basta, reacendo-lhe o ânimo, leitor, com as palavras da ministra Cármen Lúcia: “O tempo é de esperança. Quer-se um país mais justo, e é imprescindível que o construamos”.
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