Hora de trabalhar
O presidente interino Michel Temer completou, no último dia 12, dois meses sentado na cadeira que nela espera se conservar até 2018. Inicialmente diante da desorganização política em que se achavam a Nação, o Senado e a Câmara, das manifestações das ruas e dos próprios partidos, que atiravam, por razões diversas, contra um único alvo – o afastamento da presidente Dilma –, Temer armou o próprio front motivado pelo incentivo de ser o dono da caneta. E conseguiu. Ajudaram-no, além de uma habilidade construída durante décadas, ouvindo e jogando o jogo das articulações políticas nos mais diversos níveis e com os mais variados parceiros, um quadro de incertezas e de desvario resultante da incapacidade da presidente de ouvir e, assim, construir ações produtivas que afastassem a consumação do quadro que gerou o desgoverno em que se projetou o país.
Desemprego, estagnação econômica, inflação em marcha, juros altos, denúncias de corrupção servidas em baldes e, sobretudo, uma desesperança generalizada associaram-se no processo de desgaste da imagem e da autoridade de Dilma Rousseff e de seu governo. Para tal, contribuiu significativamente a operação Lava Jato, que revelou conchavos e negociatas feitos por integrantes de seu partido, o PT, custeados pela generosa Petrobras. Dilma não fora diretamente acusada de beneficiar-se de tais tramoias, mas de permití-las com sua omissão. “Onde toda gente peca, ninguém faz penitência”, diz o ditado português para retratar aquele momento do Brasil. O certo é que Dilma dançou, furtando ou não. Está fora.
Temer se instalou trazendo consigo um ministério de poucas luzes, medíocre e/ou preguiçoso, como ainda se percebe passados mais de sessenta dias desse novo governo. Não fosse o controle do câmbio, com o dólar circulando a baixíssima cotação, pouco ou nada efetivamente mudou: não há reação da indústria, o comércio amarga um dos piores resultados dos últimos anos, não se encorajam a sair da toca investidores nacionais nem tampouco para aqui viajaram investidores externos. O agronegócio se salva, ainda, apesar da baixa cotação do dólar, pela exportação de commodities, muito como reflexo da nossa capacidade de produzir, ajudada pelo clima e pelo baixo custo de produção de que dispomos.
O processo de impeachment corre silencioso no Senado; Eduardo Cunha saiu de circulação; temos novo presidente da Câmara, que trabalhará apenas dois dias na semana, até as eleições; dona Marcela mudou-se para Brasília com o pequeno Michelzinho. Tudo ajustado. Agora, Michel pai, a bola está no seu campo. Ao trabalho. O Brasil assim espera.
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