Ela (a linguagem) nos permite ingressar no mundo luminoso e arejado dos conceitos. Mas isso tem igualmente seu preço. Este mundo de luz e de ar é também um mundo em que os ventos doutrinários se desencadeiam, destruidores. Em que, ilusórios sóis artificiais surgem do horizonte; em que venenos de toda espécie brotam das fábricas de propaganda, das usinas de tolices.
Vivendo como anfíbios, metade nos fatos e metade nas palavras, metade na experiência imediata e metade em noções abstratas, empregamos a maior parte do tempo em conseguir o que há de pior nesses dois mundos. Usamos tão mal a linguagem que nos tornamos escravos de nossos chavões e nos transformamos quer em Babbits conformados, que em fanáticos e doutrinários. E utilizamos tão mal a experiência imediata que ficamos cegos às realidades de nossa própria natureza e insensíveis ao mundo que nos rodeia.
Aldous Huxley, "Adonis e o alfabeto"
Nenhum comentário:
Postar um comentário