Para ele, pior do que a ditadura da força militar, a do proletariado que desmoralizou o comunismo, a religiosa dos aiatolás é a ditadura da Justiça, que, fazendo cumprir a lei sem distinção de classe social, investiga e enjaula seus colegas e amigos, respeitando os ritos processuais e assegurando a defesa dos acusados, que podem recorrer das decisões.
Enquanto não se inventa uma ditadura da Bondade, ou do Bem, a da Justiça é a mais viável. Seria uma ditadura original, que, fazendo respeitar a lei e o estado de direito, contribuiria decisivamente para o exercício da democracia — que, paradoxalmente, é o oposto de uma ditadura.
O bom da ditadura da Justiça é que ela não poderia ser dominada pelo governo, nem pelos militares, pelos religiosos, pelos ideológicos, nem pelos políticos. É independente, não se origina nas fraudes e conchavos eleitorais, deve impor a força do Estado no cumprimento das leis. Se não for dura, não é ditadura, deve aplicar penas pesadas a criminosos que, se forem condenados em segunda instância por um colegiado, não podem mais recorrer em liberdade, o que garantia a impunidade dos ricos e poderosos em recursos infindáveis até a prescrição final.
Na ditadura da Justiça não há nomeações politicas, seus integrantes enfrentam concursos rigorosos para entrar na carreira, os juízes dos tribunais superiores são sabatinados pelo Senado. E o Conselho Nacional de Justiça investiga e pune os juízes corruptos. Uma ditadura em que quem não deve não teme. Mas quem deve, treme.
É pena, mas é tudo só um pesadelo de Sarney.
Nelson Motta
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