O site espanhol “Religión Digital”, que nada tem a ver com o Vaticano nem com o Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano), publicou uma reportagem sobre a reunião que o Papa Francisco manteve com a direção do Celam no último dia 19, e o texto impreciso deixa margem a interpretações de que o líder da Igreja Católica teria afirmado que pode estar ocorrendo “um golpe de estado branco” em alguns países da América do Sul.
O texto não tem autor, é assinado pela “Redação” do site e traz uma longa lista das preocupações sociais do Papa:
La preocupación del Papa por AméricaNota-se que se trata de uma lista de “le preocupan”, mas em meio ao texto que registra as preocupações do Papa, surge apenas uma frase solta, que destacamos em negrito: De pronto se puede estar pasando a un “golpe de estado blanco” en algunos países. Fica claro que esta frase foi inserida como um comentário da Redação, entremeado à lista das preocupações do Papa.
El Santo Padre mostró su preocupación por los problemas sociales que se están viviendo en América en general. Le preocupan las elecciones en Estados Unidos por la falta de una atención más viva a la situación social de los más pobres y excluidos. Le preocupan los conflictos sociales, económicos y políticos de Venezuela, Brasil, Bolivia y Argentina… De pronto se puede estar pasando a un “golpe de estado blanco” en algunos países. Le preocupan las carencias del pueblo haitiano y la falta de diálogo de las autoridades de los países que comparten la isla, Haití y República Dominicana, a fin de encontrar una solución legal a los migrantes y desplazados. Le preocupa la manera de entender lo que es un estado laico y el papel de la libertad religiosa por parte de algunas autoridades mexicanas.
O texto do site “Religión Digital” foi traduzido por Robson Sávio Reis Souza, professor da PUC-MG e colunista do site petista Brasil247, onde foi republicado com grande estardalhaço, sob o título “Papa alerta para “golpe suave” na América Latina”.
Nessa tradução do professor da PUC-MG, o texto original em espanhol é claramente adulterado, para atribuir ao Papa Francisco uma afirmação que ele não fez: “Atualmente, segundo o Papa, pode estar ocorrendo um “golpe de estado suave” em alguns países”.
Ou seja o tradutor (ou o editor do site 247) fraudou o texto para sugerir que o Papa teria denunciado o “golpe” no Brasil, o único país onde se fala nisso, pois na Venezuela o golpe está sendo aplicado pelo próprio presidente Maduro e não há nenhum golpe na Bolívia nem na Argentina.
Agora, vamos conferir como foi publicada a notícia sobre o Papa Francisco, na versão oficial do Conselho Episcopal Latino-Americano:
“Incansable en su misión pastoral, Francisco, el pontífice de las “periferias”, clama por la paz y el diálogo, por la justicia y la dignidad. Así lo ha hecho en sus viajes apostólicos a América, Asia, África y Europa. Así lo refirió en su discurso al recibir el premio Carlomagno 2016. Y así lo ha expresado, también, a la presidencia del Celam, en su reciente encuentro, al comunicar su preocupación por los pueblos latinoamericanos que atraviesan complejas coyunturas sociales, políticas y económicas.”
Não há, nem jamais houve, nenhuma referência do Papa a um “golpe de estado suave” no Brasil.
O Papa Francisco é o maior líder religioso do planeta, comporta-se sempre como um diplomata conciliador, não interfere nem opina sobre assuntos políticos dos países e jamais o faria em relação à maior nação católica do mundo. Na verdade, o Papa deve ser considerado o maior diplomata da atualidade, é o embaixador da paz e está empenhado hoje na conciliação de todas religiões, uma atuação ecumênica que merece apoio de todas as pessoas de boa vontade.
É absolutamente inacreditável a ousadia dos “comunicadores” do PT. No desespero pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff e pela inevitabilidade do impeachment, os petistas não se envergonham de espalhar notícias falsas, atribuindo ao Papa Francisco uma declaração de que estaria ocorrendo um “golpe branco” no Brasil. Como todos sabem, assim como não se deve usar o santo nome de Deus em vão, não se pode também usar a palavra do Papa para defesa de causas meramente políticas, que ele tanto abomina. Mas por aqui não faltam pecadores.
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