terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Cuidados com a casa comum

Terça-feira de carnaval é ‘gorda’ porque é o dia que antecede a Quaresma, tempo de penitência e abstenção de excessos. Os antigos, então, aproveitavam para se esbaldar, beber e comer até mais não poder. Afinal, tudo se acabaria na quarta-feira feira de cinzas.

Por inspiração de D. Helder Câmara, a Conferência dos Bispos do Brasil instituiu, desde os anos 60 do século passado, a Campanha da Fraternidade. Ela deu um novo rumo ao período penitencial da Quaresma: não mais apenas a contrição individual, mas a reflexão sobre o mundo, a visão da realidade, para enfrentar o pecado da omissão. Trata-se, segundo a CNBB, de “despertar o espírito comunitário, educar para a vida em fraternidade e renovar a consciência da responsabilidade social”.

Este ano, a Campanha da Fraternidade, que culmina com a Páscoa, é ecumênica, aberta a todas as igrejas. Tem como tema “Casa comum: nossa responsabilidade”. Seu lema vem do profeta Amós: “quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am, 5,24).

Lutar pelo direito e pela justiça para todos pressupõe responsabilidade para com a nossa Casa comum, o planeta Terra. Em sua magistral encíclica ‘Ladato Si’, de maio do ano passado, o papa Francisco lembra que “cada criatura reflete, a seu modo, uma centelha da sabedoria e bondade infinitas de Deus”. Não são as forças cegas da natureza que produzem o desequilíbrio climático, a crise hídrica, os desastres ambientais: são nossas estruturas econômicas e políticas. “Nunca maltratamos e ferimos a nossa Casa comum como nos últimos dois séculos”, afirma. Contundente, ele diz que “qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa face aos interesses do mercado divinizado, transformado em regra absoluta”. Francisco destaca a ‘dívida ecológica’ dos países do hemisfério Norte para com os do Sul. Propõe redefinir o conceito de progresso, que exige um modo de produzir e consumir mais cuidadoso e austero.

Além das questões da grande política, o papa estimula atitudes aparentemente pequenas, mas igualmente relevantes, se somadas: “evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, separar o lixo, cozinhar apenas aquilo que se poderá comer, tratar com desvelo outros seres vivos, utilizar transporte público ou compartilhar com várias pessoas o mesmo veículo, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias, reutilizar objetos”. Acrescentaria, nesses tempos terríveis do zica, que é preciso zelar para que sequer uma tampinha de garrafa vire abrigo de aedes na casa de cada um.

Eis aí gestos concretos e imediatos, que devem começar nessa Quaresma, como propõe a Campanha da Fraternidade 2016. Isto é preparação para a Páscoa e meio de renovação das nossas vidas!

Chico Alencar

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