Em um vasto lixão no oeste da capital de Gana, Acra, pequenas fogueiras queimam pilhas de velhos computadores, telas de TVs e laptops, lançando uma negra e espessa fumaça.
Ao redor delas, catadores recolhem placas-mãe, metais valiosos e fios de cobre, queimando pelo caminho as capas de plástico – e, assim, enchendo o ar de substâncias tóxicas.
Trata-se de um dos maiores “cemitérios de eletrônicos” do mundo, e um dos locais mais poluídos do planeta.
A cada ano centenas de milhares de toneladas de lixo eletrônico vindos da Europa e da América do Norte encontram neste espaço seu destino final, no qual têm seus metais valiosos extirpados em uma forma rudimentar de reciclagem.
Para muitos, é um negócio lucrativo em um país onde perto de um quarto da população vive abaixo da linha da pobreza.
“É algo instantâneo”, diz Sam Sandu, um sucateiro que trabalha no local. “Você trabalha nisso hoje e consegue seu dinheiro no mesmo dia.”
Especialistas alertam, porém, que as toxinas do lixão estão lentamente envenenando os trabalhadores locais, ao mesmo tempo em que poluem o solo e atmosfera.
“Mercúrio, chumbo, cádmio, arsênico – estas são as quatro substâncias mais tóxicas [no mundo], e são encontradas em grandes quantidades em lixões de eletrônicos”, explica Atiemo Smapson, um pesquisador da Comissão de Energia Atômica de Gana, que conduziu vários estudos sobre a área de Agbogbloshie, usada para o despejo.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, ainda não foram realizados estudos de longo prazo sobre a saúde daqueles que tiram seu sustento desses lixões. Ou seja, há poucas informações sobre o número de pessoas que ficaram doentes ou morreram como resultado desse tipo de atividade.
No entanto, a exposição a essas toxinas é causa conhecida de uma gama de males, que vão desde a uma série de tipos de câncer a doenças no coração e respiratórias.
“As consequências já são, de certa forma, evidentes”, afirma Sampson. “Nós não precisamos esperar 10 ou 20 anos, os efeitos já são visíveis entre a comunidade ganense.”
Analistas estimam que o mundo vai produzir 93 milhões de toneladas de lixo eletrônico apenas neste ano – um volume cada vez maior é resultado da obsolescência de produtos de alta tecnologia.
Boa parte desses eletrônicos vai terminar em diversos lixões na África e na Ásia, em vez de serem reciclados no país em que foram vendidos.
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